Transcrição disponível

 

Alexandre Nickel é o convidado do 6ª episódio do AEA! Ele é produtor audiovisual, podcaster em História pros Brother, Amigos Internautas (entre outros), além de sócio da Agência de Podcast. Nesta conversa, falamos sobre podcasts ficcionais, como funcionam redes de podcast, palpites sobre o futuro dessa mídia e muito mais!

Produção e apresentação: Ananda Garcia
Edição: https://www.instagram.com/jenni_edita/
Mais em: http://aeradoaudio.anandagarcia.com/ (em breve transcrição completa de todos os episódios)

Alexandre Nickel:
https://www.instagram.com/alexandrenickel/?hl=en
https://www.instagram.com/historiaprosbrother/?hl=en
https://www.instagram.com/agenciadepodcast/?hl=en
https://twitter.com/alexandrenickel

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Pix A Era do Áudio: aeraoaudio@gmail.com
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(INÍCIO)

 

[00:00:00] 

[Vinheta de abertura]: A Era do Áudio.

[Abertura]

Ananda: Eu sou a Ananda Garcia e nesse podcast vou conversar e aprender com os profissionais que fazem os sons e os conteúdos que a gente ama ouvir. E se você também é dessa tribo, cola aqui e ative os seus ouvidos, porque você está na Era do Áudio.

[Trilha sonora]

Ananda: E hoje eu vou falar com o Alexandre Nickel. Ele tem Agência de Podcast, é músico, produtor audiovisual e mais um monte de coisas, então, Alexandre, eu acho melhor que você se apresente. Obrigada por estar aqui. Um tempão que a gente não conversava.

Alexandre Nickel: É verdade, eu que agradeço. Bom, sou o Alexandre Nickel, eu sou um dos sócios da Agência de Podcast, trabalho com essa agência desde 2018, e faço um monte de outras coisas, mas basicamente minha vida hoje, o meu tempo é 80% em cima de podcast mesmo.

Ananda: Como você tem produzido ultimamente? Eu vi que o História Pros Brother tem lançado episódio frequentemente. Esse tem sido o podcast no qual você está mais focado agora ou estão rolando outras coisas também?

Alexandre Nickel: Na Agência rola muita coisa. A gente está, enfim, trabalhando em vários projetos para esse ano. Pessoalmente, que eu participo, eu participo de dois podcasts, que são o Amigos Internautas, que é um podcast só de notícia idiota que eu gosto muito…

Ananda: E tem muitas para comentar sempre.

Alexandre Nickel: É difícil a semana não ter, sei lá, as três notícias que a gente quer, porque toda semana um cavalo invade uma lotérica. Toda semana acontece alguma coisa do tipo. Tem esse podcast e tem o História Pros Brother, que é um podcast de história e tal que eu faço com um professor que se chama Vitor Soares. A gente faz muito episódio, na verdade, sempre dois por semana. Às vezes, tem meses que a gente faz um episódio por dia, então a gente produz muito conteúdo. E na Agência tem muita coisa que a gente está fazendo, desde podcasts, projeto novos, que a gente está preparando para 2022, mais voltados até para ficção e tem um monte de podcasts da casa, o da Amanda Ramalho, de saúde mental, da Gabriela Fernandes, da Maju. Tem muita coisa.

Ananda: Você pode falar um pouco desses podcasts de ficção que vocês estão produzindo? Porque eu me amarro muito em podcast de ficção e eu acho que no Brasil ainda está começando a florescer, a coisa está começando a aparecer mais, mas até um tempo atrás não tinha muito.

Alexandre Nickel: Eu quero que esse seja o foco da agência a partir de agora, porque a gente fez essa firma, essa empresa – eu e meu sócio -, para a gente fazer umas paradas que a gente se empolga muito. Eu acho que os podcasts de ficção são uma intersecção entre coisas que a gente se empolga muito e coisas que vão rolar no Brasil, e também coisas que às vezes demandam um esforço que seja mais propício até para agências do que para produzir totalmente independente, porque é muito difícil você fazer um podcast de ficção legal – tem como, tem uma galera que faz sozinha ou, sei lá, com um brother ou poucas pessoas. Mas eu acho, para ficar legal, pelo menos as referências, é um trampo muito mais coletivo, que envolve mais pessoas, e aí eu acho que para a Agência se alinha bastante ao que a gente quer fazer. Eu nunca fui tão fã de podcast de ficção, mas eu estou ficando. Nos últimos anos, eu estou ficando. Tem muita coisa que eu tenho gostado, tenho achado muito legal, e também dá para ir para muitos caminhos, dá para fazer muita coisa.

Ananda: Tem algum que você tenha escutado recentemente que você recomende?

Alexandre Nickel: Tem um podcast em inglês que chama Gay Future…

Ananda: Que ótimo.

Alexandre Nickel: … que eu acho maravilhoso, que eu acho um dos melhores podcasts. Inclusive eu acho que ele é um podcast meio independente. São três pessoas que fazem. E ele é de um futuro distópico onde todo mundo é gay e é muito legal. E aí é meio que um Harry Potter, só que o cara se descobre hétero no futuro gay. Ele vai em uma jornada que ele se descobre hétero. Muito bom. Eu gosto desse podcast. Tem uma produtora chamada Kill Code, que tem muito podcast de ficção, mais suspense, que eu tenho gostado bastante. Eles têm um podcast chamado Gaslighting, que é legal; Left Right Game, que também é deles, é legal. No Brasil, enfim, tem alguns, tem aqueles projetos do Spotify, do Paciente 63.

Ananda: Ah, é muito bom.

Alexandre Nickel: É um projeto que é acho que de um roteirista chileno, então acho que é aquela parada que o Spotify tem de pegar uma parada de ficção, enfim, como projeto e faz com atores locais também, modifica um pouco o roteiro. Mas BR mesmo, que veio do roteirista brasileiro, eu não estou tão ligado em tantos projetos assim.

Ananda: Você comentou uma coisa que eu queria retomar, que é o fato de esses podcasts narrativos darem muito trabalho. Toda vez que eu curto muito um podcast – eu estou falando narrativo, na real, porque, bom, pode ser narrativo ficcional e não ficcional – eu gosto mais dos não ficcionais ou daqueles que têm um pouco de drama e um pouco de não ficção -, mas dá muito trabalho. Toda vez que eu curto muito um podcast desses eu vou ouvir os créditos e é um monte de gente. Eu me pergunto se no Brasil… eu acho que são poucas as agências, as produtoras que têm braço para dar conta de projetos tão grandes. É claro, a gente tem o Spotify, tem, por exemplo, a sua Agência de Podcasts, mas é difícil fazer sozinho, não é, Alexandre?

Alexandre Nickel: Eu acho, por exemplo, o Brasil tem várias produtoras de áudio, tem um monte de gente superqualificada, obviamente conseguiria fazer esses projetos, só que…

Ananda: Se quisesse, faria.

Alexandre Nickel: É, se quisesse, faria, enfim, se tivesse interesse, mas minha dúvida é – e aí que eu quero fazer -: eu acho que essa galera não tem interesse de fazer vários. Ou interesse ou grana ou vontade de fazer vários, porque eu acho que existe uma curva de aprendizado, que nem cinema. Não tem como comparar, por exemplo, tem várias paradas, sei lá, Hollywood e Brasil, você vê que tem uma diferença. Você pode achar vários filmes nacionais legais, mas você vê que a média de direção de fotografia de parada gringa é muito superior. Os caras produzem um volume gigantesco. E aqui eu não sei, sei lá, talvez se alguma produtora que faz várias paradas de ficção migrar para isso, mas eu acho que não existe dificuldade de fazer um, mas eu acho que talvez não exista interesse de fazer vários e acho que só fazendo vários que tem essa curva de aprendizado, que eu acho que a gente… aqui na Agência, a gente quer fazer alguns. Eu acho que vários vai ficar meio bosta.

Ananda: Mas é a curva de aprendizado, não é?

Alexandre Nickel: É, exatamente, porque não tem… roteirista de podcast ficcional: a gente está pegando uma galera que estuda Produção Audiovisual e está criando projetos juntos, até porque não tem um orçamento gigantesco, então a gente está criando umas ideias loucas, eu estou ajudando, estou voltando a estudar roteiro. Eu sou formado em Produção Audiovisual, eu tinha estudado, mas não lembrava de nada. Enfim, a gente está meio que tentando fazer vários projetos e aprender também, começar a fazer algo que eu ache legal.

Ananda: Eu vejo também que as profissões nos podcasts ficcionais ou não ficcionais que são narrativos gringos têm cargos muito definidos: tem o sound designer, tem o cara do foley, tem o scoring, tem um monte de profissões. É muito dividido, é muito compartimentado o que cada um faz. Eu acho que no Brasil a gente ainda tem essa coisa de: vai ter – eu não sei, eu posso estar falando bobagem – o técnico de som, o engenheiro de som, que vai fazer tudo ou nem isso, ou nem vai ter essa pessoa.

Alexandre Nickel: É, por exemplo, quando você vê aqueles podcasts que a gente acha legal, aqueles da Gimlet, que a gente acha muito bons, são umas 20 pessoas, 25 pessoas fazendo um episódio, vários meses, tem muita pesquisa, muita parada, os caras têm um estúdio, sei lá, com umas 13 salas. É outro lance, é outra parada, mas já vi reportagens e coisas que até a própria Gimlet tem dificuldade de se pagar. É muita gente, é muito caro fazer do jeito, abre aspas, certo.

Ananda: Sim. Alexandre, eu queria que você falasse um pouco sobre – ainda falando da Agência de Podcast – como é o modelo de negócio, hoje, da Agência? Vocês produzem podcast, evidentemente, ou também conectam marcas com podcasts, têm um braço comercial, como é que funciona?

Alexandre Nickel: Então, a gente tem basicamente três braços. O primeiro deles: a gente tem um casting que tem exclusividade com a gente, que tem História em Meia Hora, Astronomia em Meia Hora, da Amanda Ramalho de saúde mental, enfim, vários podcasts, e aí às vezes vem uma marca ou uma agência, faz ações comerciais, a gente vende esses espaços, esses spots, para fazer ou um spot de 30 segundos ou um episódio temático e a gente ganha uma porcentagem em cima desses anúncios. Essa é uma parte da agência. A gente também presta serviço para algumas marcas: faz da Smart Fit, faz da Premier Pet, fez do Badoo. A gente tem isso e a gente presta serviço também para o próprio Spotify, a gente faz algumas edições para eles, faz algumas gravações para o próprio Spotify, e também a gente tem esse terceiro braço, que é o que a gente está tentando desenvolver mais a longo prazo, que é criar projetos totalmente próprios em formatos um pouquinho mais alternativos e tentar comercializar isso. Mas é um projeto bem longo prazo. Não é o que paga o bife no final do mês por enquanto.

[00:10:00] 

Ananda: Entendi. E os criadores de conteúdo que trabalham contigo, como é o processo criativo, mas como é a liberdade, a autonomia para cada podcast? A Agência tem bastante influência nos podcasts ou eles são bastante livres para produzir?

Alexandre Nickel: Ah, totalmente livres. A única coisa que a gente faz, obviamente: a gente assina um contratinho que o cara, sei lá, se falar alguma coisa nazista, provavelmente, o problema é dele – para ele não falar. Também acho que não é o caso, mas a gente sempre tem essa orientação mais lógica mesmo. Faz algumas reuniões para definir um pouco até as artes dos podcasts, alguma coisa de posicionamento. Depende também se o podcast já existe e vem para a Agência ou se ele está sendo criado. A gente tenta talvez influenciar ou criar junto os primeiros episódios, tentar criar uma diretriz, criar esse modelo e a pessoa faz o que ela achar que faz sentido. A gente não fica microgerenciando todos os episódios. Apesar de editar e fazer alguns deles aqui, a gente não fica microgerenciando.

Ananda: Mas aí a galera, por exemplo, tem a ideia, marca com o convidado, grava. Aí a próxima etapa – falando um pouco do fluxo de produção – passa para o editor de áudio, que é da agência. Vocês editam, vocês finalizam o episódio?

Alexandre Nickel: Isso, a maioria dos podcasts sim. A gente tem um estúdio, então vários dos episódios são gravados aqui no estúdio da Agência – fica em São Paulo. Os episódios geralmente são gravados aqui, a gente tem editor aqui, também tem editor remoto, e aí são editados pela própria Agência e upados pela própria Agência, distribuídos pela própria Agência, tudo nesse clima feito aqui mesmo. Alguns, até com a pandemia, a grande maioria grava remotamente, não grava aqui. Tem gente que não é daqui. Ou tem gente que vem, por exemplo, a gente está fazendo um podcast agora que é sobre só fun facts de animais, que a gente gosta muito, e aí é um veterinário. Esse veterinário vem de Belo Horizonte todo mês para gravar, aí a gente vem, grava. A gente não lançou ainda. Aí ele vem, agenda o estúdio, grava, faz o aqui. Às vezes vem em outro momento para dar uma revisadinha, para dar uma escutada com algum editor. Então esse é o clima.

Ananda: Eu acho muito fantástico ter rede de podcast. Eu já pensei várias vezes que talvez, se eu pudesse escolher, essa seria uma coisa que eu gostaria de ter, mas parece um trampo, parece bastante trabalho. Você acha que ter contatos é fundamental para começar uma rede de podcast? Tem alguma dica?

Alexandre Nickel: Contatos… eu não sei, eu acho que é surpreendente o quanto chamar as pessoas na DM, mesmo não tendo contatos, se tiver algum interesse, vai. Acho que não precisa conhecer tanta gente. E tem uma coisa que, por exemplo, a Agência de Podcast já tem vários podcasts que têm uma relevância, número de plays, então a vinhetinha da Agência ali todo episódio, de todos os podcasts, acaba fortalecendo a marca e vem contato por isso. Então tem muita gente que vem pela vinheta.

Ananda: Eu gosto, e é você que faz, não é? Bom, você é locutor também, você também faz locução profissionalmente, não é?

Alexandre Nickel: É, fiz bastante tempo; ultimamente, não tenho feito tanto, mas eu fazia várias há algum tempo, porque a vinheta é tipo o site da Agência. A gente recebe muito e-mail, alguns completamente sem sentido, 25% são: “Quero podcast” ou “Perdi meu áudio, o que eu faço?”, é muita coisa legal. Ou uns briefings de podcast muito sem sentido.

Ananda: Deve ter bastante coisa bizarra que aparece sempre.

Alexandre Nickel: É, o bizarro até acho legal. Eu não gosto quando é muito vago. Quando é muito vago, eu não respondo. Quando é bizarro, eu respondo. Mas quando é muito vago… tipo assim: “Ah, quero fazer um podcast cultura pop. Tenho um amigo superengraçado, como faz?”, aí eu não respondo.

Ananda: Mas é, esse negócio da vinheta… e sempre me marcou, toda vez que eu escuto algum podcast da Agência tem: “Agência de Podcast”, eu acho muito bom.

[Trilha sonora]

Ananda: Muita gente fala: “Não crie um podcast a menos que você ainda se veja fazendo esse podcast daqui a dois anos, três anos, porque podcast é muito sobre ter disciplina, longo prazo etc.”, eu concordo com tudo isso, mas eu penso às vezes sobre essa afirmação, porque tem muitos podcasts que eu gosto que são uma temporada fechada sobre algum assunto, assim como se fosse uma série de TV, que é uma temporada e fala de uma coisa só. O que você acha disso?

Alexandre Nickel: Eu acho que este comprometimento não deve ser necessariamente de, sei lá, dois anos, mas deve ser um comprometimento de número de episódios para tomar uma decisão, do tipo: “Vou fazer um projeto de podcast que vai ser review de pen drive”. Eu acho que você tem que se propor a fazer pelo menos, sei lá, 20, 50, 100, qualquer que seja o número, para você reavaliar se está fazendo sentido e se é legal para a sua vida. Eu acho que não pode ser uma parada solta, do tipo assim: “Ah, vou começar a fazer e vou ver no que dá”. Eu acho que você pode fazer isso, mas “Vou começar a fazer, vou fazer 20 episódios e vou ver no que dá”. Eu acho que ter esse ponto para você ter um feedback é importante e também você se obriga… porque tem uma fadiga clássica da criação de podcast que é: a pessoa está a fim de fazer um podcast, se empolga muito, ouve vários. Aí ela começa a fazer, faz o primeiro episódio, ela acha que está bom, mas, na verdade, não está tanto. Aí ela lança, manda para todo mundo. Mandou para todo mundo, aí teve lá, sei lá, 50 plays. Aí, no segundo episódio, ela manda para uma galera, teve lá 40 plays. No quarto episódio, todo mundo que escutou pela primeira vez não tem mais a novidade. O seu amigo já te falou que lançou um podcast. Então os plays automaticamente caem lá pelo quarto, quinto episódio, e aí a galera desanima. O que rola é que eu acho que você tem que começar a contar os seus plays lá pelo quinto episódio, que aí acabou o aspecto de novidade para os seus amigos – estou dizendo podcast que você faz e não conhece ninguém, nada. Eu acho que, depois que acaba a empolgação, que você, enfim, já parou de encher o saco da sua tia para escutar o podcast, da sua namorada, aí ele começa a crescer pela qualidade própria dele, pela disseminação própria dele. Só que, nessa curva, nesse momento, é que a galera desiste, porque não faz episódio de gaveta e aí vê: “Ah, não, fiz o quarto, já não estou tão animada como eu estava…”, porque fazer os primeiros é muito animador, “… o número de plays só está decaindo”, e aí a pessoa desiste.

Ananda: É, isso acontece muito. Eu acho que na pandemia – inclusive, eu trabalhava no Spreaker, eu tive acesso aos dados – teve um pico de criação de podcast, até no início da pandemia. Depois foi caindo. Como você acha que está sendo ainda, infelizmente, esse período para os podcasts tanto da parte de criação quanto de downloads? Qual é o cenário atual, no seu ponto de vista?

Alexandre Nickel: Na Agência, falando em downloads, a gente está só crescendo, está tudo legal, mas é que a gente está cada vez criando novos projetos e novas coisas. Quando eu vejo individualmente criar um projeto, o que eu vejo muito é não encontrar esse equilíbrio, porque ou é um preciosismo de “O que eu quero fazer tem que ser perfeito e tem que ser muito foda e não sei o que, não vai ter um podcast melhor do que o meu, eu vou lançar com a melhor vinheta e com o melhor roteiro” e aí não cria barreiras e não lança nada; ou a pessoa cria, faz isso sem planejamento nenhum. Não tem um equilíbrio de criar um produto mínimo viável, lançar e planejar para fazer médio prazo. Eu acho que o problema são os extremos, o problema é o planejamento que trava, e a autocrítica que trava, que todo… alguém que está ouvindo aqui tem. Certamente fica pensando: “Se (for) [00:17:49] para fazer um podcast, vamos fazer qualquer coisa da vida. Se não for de tal jeito, eu não vou lançar. Eu quero morar em tal lugar, mas se não for em tal casa, eu não vou morar”. Trava os projetos. Acho que é mais ou menos isso.

Ananda: Sim, é, acho que tem muito fogo de palha, eu acho que muita gente pegou carona no podcast nos últimos tempos, meio que…

Alexandre Nickel: Ah, tem a parada dos influenciadores, que viram outra galera fazendo ou de repente migraram de outro meio: “Ah, tenho um canal de Youtube gigantesco” ou “Sou uma pessoa de Instagram que tenho uma relevância”, viram outra pessoa fazendo e querem fazer e não têm aptidão, vontade ou conhecimento. Mas isso eu acho perfeitamente normal e faz parte de tudo. Enfim, aconteceu com tudo, todo mundo tentou fazer um canal de Youtube.

Ananda: É normal, faz parte do processo de autodescoberta.

Alexandre Nickel: É. Tem uma galera que fica braba, tem uma galera que acha que podcast tem que ser de uma determinada galera e fica irritada. Aqui na Agência mesmo, a gente vê quando… tem um podcast de uma menina que é influencer e a galera muito de cara que ela lançou um podcast na época.

Ananda: Por quê?

Alexandre Nickel: Por isso, por achar que “Ah, ela está indo só porque agora todo mundo está fazendo e ela é influencer e tem muito seguidor, vai fazer”. Deixa as pessoas fazerem o que elas quiserem, não é, galera?

Ananda: Eu vi um movimento de alguns youtubers até de fora do Brasil simplesmente colocando o seu conteúdo para podcast, o que às vezes pode funcionar bem, às vezes não, por conta dos elementos visuais que o vídeo tem, mas eu vi essa tendência rolando fortemente também. E pode dar alguma dica para quem quer gravar podcast solo? Eu mesma já pensei em gravar, mas eu pensei: “Eu acho que eu não consigo segurar mais do que uns dez minutos falando”.

Alexandre Nickel: Eu acho que é muito difícil de gravar sozinho. Geralmente não fica legal. É muito bom você ter alguém para ir e voltar. E gravar sozinho… eu acho que é o lance de você criar um roteirinho, separar em bits, tipo, sei lá, você vai gravar um episódio de 20 minutos: separe em quatro pedaços de cinco e não tenha medo de refazer esses pedaços. Dê uma escutada e veja se está muito ruim e tal. Eu acho que é dividir e refazer, isso é um lance que pode ser uma boa. Pelo menos, poucas pessoas têm o lance de fazer um freestyle e ficar legal com tanto tempo. Eu acho que o único podcast que eu gosto que é uma pessoa sozinha é o do Bill Burr, que é um comediante que eu acho muito legal, e nem sempre é legal, porque é difícil. Tem um podcast também do Tim Dillon, que é um outro comediante que fala sozinho, mas aí tem um cara que fica com o microfone e quase nunca fala, mas pelo menos está ali, porque aí tem uma reação, tem uma parada. Mas eu acho que é não ter medo de editar, não ter medo de fazer vários takes e pensar que tem uma curva de aprendizado mais difícil do que fazer podcast com pessoas. Mas o roteirinho ajuda. Roteirinho de tópico ajuda.

[00:20:47] 

Ananda: É, um roteirinho ajuda. Enquanto ouvinte, eu tenho mais facilidade de ouvir quando são bem curtinhos, tipo dez, 15 minutos, a pessoa dando alguma dica, falando como alguma coisa funciona, de preferência…

Alexandre Nickel: Você escuta algum de solo?

Ananda: Olha, eu escutei o da Laurinha Lero por um tempo.

Alexandre Nickel: Ah, ela é boa.

Ananda: É, alguns de marketing assim: “Dicas de não sei o que”, “Como escrever melhor não sei das quantas”, umas coisas assim meio de marketing digital, sabe? Umas coisinhas curtas.

Alexandre Nickel: Pois é, essas paradas de dicas curtas eu não sei, eu sempre vou para o Youtube. Eu não sei, porque eu acho que talvez para mim, quando é esse lance que parece um lance de instrução, fica mais fácil ver um vídeo também, nunca só áudio quando é uma parada mais educativa curta. Eu só escuto podcast solo quando são uns negócios muito idiotas, muito comédias.

Ananda: Ah, saquei. É, para mim, coisas educativas… na verdade, quando são longas, eu prefiro Youtube, tipo os vídeos do Pat Flynn, que ele fala de marketing, podcast, coisa assim. São vídeos longos, eu gosto sempre de assistir. Eu ultimamente tenho me pegado até vendo alguns podcasts… assistindo no Youtube a alguns podcasts, eu fico supersurpresa, porque é uma coisa que eu não costumava fazer, mas às vezes eu assisto.

Alexandre Nickel: Qual você assiste? Qual você tem assistido?

Ananda: Alguns brasileiros, tipo o Mais que Oito Minutos, o Achismos, que eu acho que é do Maurício Meirelles, o Vênus Podcast, Poddelas, esses assim, sabe? Que estão meio na moda agora. Eu vou deixar rolando, eu não fico vidrada na TV, eu fico vivendo a minha vida, sei lá, arrumando o quarto, arrumando alguma coisa assim e deixo tocando.

Alexandre Nickel: É aquela parada: usa o podcast como um acompanhamento. Está fazendo uma parada, meio que não está sozinho. É, eu vejo The Office quando eu faço as minhas coisas.

Ananda: Ah, o The Office é sempre um pano de fundo perfeito para tudo.

Alexandre Nickel: Comecei a me dar conta do número de vezes que eu já vi The Office, é assustador. Inclusive, você já escutou o podcast do… tem um podcast, sabe o Kevin Malone, lá do The Office?

Ananda: Ele era qual? Ele fazia o Kevin?

Alexandre Nickel: Isso, o Kevin, o personagem Kevin.

Ananda: Ah, sim.

Alexandre Nickel: Ele tem um podcast que é do Spotify mesmo, mas é em inglês. É uma história oral do The Office e é muito legal, meio documental, que é no estilinho que você acha legal, que você falou. Ele vai desde o casting dos atores, da ideia do episódio, das reuniões dos roteiristas, da greve dos roteiristas, que teve. Enfim, é um podcast que vale… para quem é fã de The Office e saca um pouco de inglês, vale a pena dar uma escutada.

Ananda: Que legal. É, eu ouvi por um tempo o Office Ladies, com a Angela e a… eu nunca sei o nome de ninguém. Com a que faz a Pam. Eu não lembro o nome dela.

Alexandre Nickel: Jenna Fischer.

Ananda: Isso, a Jenna Fischer, que a Angela é o mesmo nome da atriz, por isso que é fácil e eu lembrei.

Alexandre Nickel: E é bom? É legal?

Ananda: É bom, elas entrevistam pessoas do elenco, acho que elas entrevistam também produtores. São as duas apresentando e entrevistando pessoas e falando de episódios: “Ah, esse episódio foi assim, lembra? E aconteceu tal coisa”. São elas conversando sobre o passado, é bacana também. E, já que você mencionou, tem um podcast que eu queria muito que tivesse uma segunda temporada, mas que talvez vire série da Netflix – eu não lembro. Ele é da BBC, o nome é Fake Heiress, tipo Falsa Herdeira. Ele conta uma história real de uma menina russa – meio russa, meio alemã – que deu um golpe em uma galera em Nova Iorque fingindo ser uma herdeira. Ela deu o golpe em um monte de gente da high society de Nova Iorque, e o que eu gosto nesse podcast é porque tem a dramatização, tem alguns diálogos que são feitos, tem um som ambiental, tipo, as pessoas no restaurante, você escuta barulho de copo. Eu gosto muito dessa ambientação. E também tem depoimentos de pessoas que a conheceram. Ela, inclusive, foi presa, está para ser solta agora, enfim. Ela meio que virou uma celebridade, porque ela deu o golpe nessa galera aí, enfim. E tem até uma ex-namorada do Supla que dá entrevista, que é uma DJ lá. Eu achei fantástico. Eu gosto muito dessa mistura do drama com a coisa documental. Eu queria encontrar mais podcasts assim, então quem conhecer pode me enviar dicas.

Alexandre Nickel: Eu nunca escutei nada nesse clima que você falou. Eu já vi um monte de coisas…

Ananda: Eu te mando depois.

Alexandre Nickel: … em audiovisual disso, mas de podcast eu nunca escutei. Acho que quem faz deve ficar com medo de fazer, porque…

Ananda: Ah, sim, porque é estranho, é diferente, não é?

Alexandre Nickel: … acho que também deve dar medo de… porque teoricamente parece um… é um documentário, não é um documentário… qual é o seu compromisso com a verdade na parada? Deve dar um medinho de produzir isso aí, mas eu acho legal.

Ananda: É, te mando depois o link e depois eu coloco na descrição do episódio para quem quiser dar uma olhada.

[Trilha sonora]

[Recado]

Ananda: E, Alexandre, bom, a gente falou mais de podcast aqui, mas você faz um monte de coisas. Você também é músico. Você trabalha com teatro também, se eu não estou enganada.

Alexandre Nickel: Não, eu trabalhei com várias coisas, sempre fiz coisas relacionadas à música e tal, mas trabalhei muito com produção audiovisual mesmo, fazer clipe, fazer publicidade, fazer esse tipo de coisa. Ah, quase que eu esqueci, mas eu tenho uma agência de social media que a gente faz para alguns artistas e tal aqui e também eu trabalho com isso. Então eu faço várias coisas, mas cada semana eu entro em um loop diferente de: quero ficar pintando coisa ou quero fazer kombucha, que eu estou…

Ananda: Você está fazendo em casa?

Alexandre Nickel: Kombucha?

Ananda: Eu não sei se a gente está falando da mesma coisa. Não é aquela bebida?

Alexandre Nickel: É essa bebida.

Ananda: Ah, eu pensei: “Vai que é alguma coisa nova”.

Alexandre Nickel: Não, eu entrei em um loop louco tipo: “Ah, eu quero fazer um negócio nada a ver, eu quero ser um cara que sabe fazer vários cookies”, aí eu entrei em um loop de fazer cookie. Aí tem o negócio das kombuchas que eu comprei todas as… estão lá em casa, não comprei ainda… porque precisa de um vermezinho, scoby, que eles chamam. Aí eu não achei ainda, mas minha sala tem umas 20 garrafas de vidro, uns tonéis, uns negócios lá, que eu entrei nesse looping de fazer. Mas aí não é uma parada… obviamente não comercialmente, só por entretenimento, mas eu entro nessas paradas de querer. Agora, no momento atual que estou vivendo, meu loop é justamente esses podcasts de ficção. Passou de criptomoedas para a morte do Kennedy, e agora entrou de novo em loop de ficção, em podcast de ficção. Ainda bem que saiu da morte do Kennedy, porque eu fiquei uns três meses lendo sobre o assassinato do Kennedy.

Ananda: Que loucura. Eu tenho umas piras também. Você chegou a gravar uma coisa sobre isso ou ficou mais em você, pessoalmente, de você pesquisar?

Alexandre Nickel: Não, ficou mais em mim, porque eu comecei a… vi um filme, depois fui ver outro documentário, depois fui ver outra coisa. Aí eu descobri por que as pessoas ficam loucas e viram essas paradas de conspiração e ficam completamente loucas. Tem muito conteúdo, é muito entretenimento assim, se você começar a pilhar nessas conspirações.

Ananda: Você não quis gravar um História Pros Brother sobre a morte do Kennedy, não?

Alexandre Nickel: É o lance mais óbvio e a gente não fez, não sei por quê.

Ananda: Não sabem?

Alexandre Nickel: É, porque vai ser um episódio de 12 horas que eu vou ficar enchendo o saco.

Ananda: Eu escutei aquele episódio do rei que quase virou muçulmano, eu achei muito bom.

Alexandre Nickel: O Vitinho é muito bom, que é o professor de história. Inclusive, o podcast dele é o maior de história do Brasil já. O História em Meia Hora é o maior no Spotify. E é legal, porque ele faz o História em Meia Hora, que geralmente é o mais escutado do Brasil, às vezes de educação mesmo, e o História pros Brother está sempre junto também, então está virando o cara da história do Brasil em podcast.

Ananda: Legal. Mas, então, eu te perguntei isso, de fazer várias coisas, porque eu queria saber como funciona a sua cabeça em termos de foco, disciplina, essas coisas assim, porque eu acho que deve ser um desafio bem grande.

Alexandre Nickel: Então, eu acho que a disciplina é muito subestimada pelas pessoas. A galera valoriza talento, a galera valoriza várias outras coisas, e disciplina é sempre vista como algo de alguém não criativo e até chato.

Ananda: É, de alguém quadradinho.

Alexandre Nickel: Pensa aí alguém do militar, você pensa no cara que não vai ter ideias, e eu garanto que todo mundo que faz algo que gosta é muito disciplinado em alta performance. Todo mundo que…

Ananda: Concordo.

Alexandre Nickel: … tudo que você gosta é alguém muito disciplinado de alguma forma, até talvez sem saber que é disciplinado – o que acontece muito -, mas é. O que eu tento fazer é tentar ter isso. Acho que naturalmente eu não tenho, mas eu tento organizar bastante o meu dia por horários mesmo. Eu tenho na minha agenda quando eu vou regar as plantas, então eu tento organizar bem o meu dia, ter aquelas listinhas, aquelas to do lists por dia separado. Eu tenho várias listas: de compras da semana, do que eu vou fazer hoje, do que eu vou fazer no mês, do que eu vou fazer para cada projeto. A gente usa alguns sites e aplicativos de organização: a gente usa o Trello, a gente usa o Notion dentro da empresa. Então eu tento me organizar e, uma dica boa para quem “Ah, eu tenho vontade de fazer várias coisas”: não deixe de fazer essas coisas. Eu acho que é importante você… para mim, por exemplo, que tenho dificuldade de ser um cara mega concentrado em uma coisa, é eu estar fazendo sempre umas quatro coisas ao mesmo tempo e tocando esses projetos. “Beleza, agora eu estou a fim de fazer esse projeto de ficção”, fico tocando até certo ponto; mas depois eu estou a fim de tocar um outro projeto, sei lá, fazer uma música, alguma coisa que eu esteja a fim, ou pintar um quadro. E aí tentar tocar várias coisas desde que sejam produtivas dentro de um horário e tal. Então minha agenda não tem exatamente o que eu vou… eu vou ser produtivo nesse horário, mas não sei exatamente no quê. Eu tento fazer essas coisas.

[00:30:51] 

Ananda: Entendi. Não, mas você tem um sistema.

Alexandre Nickel: Sim.

Ananda: Se você tem a tendência para ser indisciplinado com o seu tempo, você tem um recurso para tentar se colocar dentro de uma organização.

Alexandre Nickel: É, dificuldade de concentração, tenho tudo desgraçado.

Ananda: Ah, eu também.

Alexandre Nickel: Aí eu tento meditar.

Ananda: Você tenta? Você consegue?

Alexandre Nickel: Vai fazer meio ano que eu medito, já, por aí. Todo dia, acordo, aí tomo água, vou ao banheiro e tal, faço o meu skincare – desculpa aí – e medito pelo menos uns… eu uso um aplicativo do Sam Harris chamado Waking Up.

Ananda: Não conheço esse.

Alexandre Nickel: Ah, é igual a todos, só que eu gosto da voz dele, demais. Mas é tudo…

Ananda: Eu usei o Headspace.

Alexandre Nickel: É, o Headspace é muito legal também. E eu uso esse Waking Up e faço uns dez, 15 minutos todo dia quando eu acordo. Não sei se… não sei o quanto por cento ajuda, mas eu acho que nem que seja o psicológico de pensar: “Estou fazendo um negócio para…”.

Ananda: Sim.

Alexandre Nickel: E é muito difícil, é muito impossível parar e “Não estou pensando no que eu tenho que fazer no dia, não vou pegar o meu celular por 15 minutos”, já é um desafio.

Ananda: É horrível, eu estou agora tentando desacelerar, mas é muito difícil. Eu já durmo olhando o celular para ver o que eu vou ter no dia seguinte, aí eu já fico pensando.

Alexandre Nickel: Ah, mas é que você passa um tempo sem celular. É uma coisa muito foda, é muito bom passar um tempo sem celular. Não sei se você pode fazer isso.

Ananda: Até posso, mas quero? Não quero. Mas devo? Sim.

Alexandre Nickel: Mas é que se você deixar… o primeiro dia, o segundo dia… você realmente olha aqueles documentários de viciado e você é muito parecido: você tremendo e querendo pegar. Mas depois vai acalmando, é bom. E dizem… eu não consigo deixar o celular em outro cômodo antes de dormir.

Ananda: Ah, eu não consigo, ele fica do lado da cama. Mas é que eu uso para despertador, aí eu uso isso como desculpa: “Não, eu preciso…”.

Alexandre Nickel: Pois é, a gente deveria conseguir fazer isso.

Ananda: Sim. Deixe-me te fazer uma pergunta, até para voltar um pouco para o tema. Uma rápida pergunta: eu trabalhava muito com influenciadores e criadores de conteúdo uma época em que eu trabalhava com influencer marketing, e aí era bem complicado, porque a galera tinha horários artísticos. O artista às vezes acorda às duas da tarde, quer conversar, enfim, e aí era muito louco, muita mensagem chegava nos horários mais absurdos. No seu trabalho, se você lida com influenciadores que têm podcast, como é? Você consegue fazer com que as coisas aconteçam no horário comercial ou é meio a la loco?

Alexandre Nickel: Em 70% dos momentos, sim. Eu, pessoalmente, evito ao máximo responder… a não ser que seja, abre aspas, de urgência. E eu sempre tento fazer aquela pergunta de novo: “Mas é mesmo urgente? O que vai acontecer se eu não responder? Se eu responder segunda às nove horas, o que vai acontecer?”. Eu sempre tento fazer isso, mas a gente tenta educar, meio Pavlov: não responder fora do horário, responder só no horário e falar que tem aquele negócio de… mas a gente já teve trabalhos que a gente precisou articular 18 influencers, e aí foi… é o inferno. Bom, sim, a gente trabalhou com a galera. Tem muita gente foda, tem muita gente comprometida, muita gente profissional, mas tem muita gente desgraçada que tem que pegar fogo, que é horrível. Mas a gente, hoje em dia, não tem tanta gente assim, a gente não está fazendo tanta coisa com influencer.

Ananda: E agora, indo para os finalmentes, Alexandre, eu escutei – porque eu fiz a minha pesquisa – um episódio que você participou com a sua irmã, no podcast dela, cinco anos atrás, e aí você fez uma previsão nesse podcast. Você fez a seguinte previsão: isso era 2016, e você disse que o podcast ia começar a ter um reconhecimento maior no Brasil em três anos. E isso aconteceu, porque 2019 foi um ano muito marcante, teve até o evento do Spotify, eu fui para o Brasil com Spreaker, a gente se conheceu, inclusive. O Spreaker lançou no Brasil, traduziu tudo para português. Teve um movimento da indústria, nesse ano, bem forte, e aí você previu isso e você acertou. Então eu quero saber o que mais você vai prever para nós para os próximos tempos no podcast?

Alexandre Nickel: Ah, eu acho que ainda tem algumas personalidades para surgir e serem assustadoramente influencers no meio. O pessoal acha que o Flow e o Podpah são podcasts grandes – e são podcasts gigantescos -, mas eu acho que ainda vai surgir alguém que pode definir 10% de uma eleição no podcast. Eu acho que…

Ananda: Você acha que o Joe Rogan do Brasil ainda não surgiu…

Alexandre Nickel: É, não.

Ananda: … ele está por aí, mas ainda não despontou.

Alexandre Nickel: Exatamente, é essa a referência. O Joe Rogan do Brasil está para surgir. Talvez seja tipo um Casimiro da vida, sabe?

Ananda: Quem sabe será o Casimiro?

Alexandre Nickel: Não, mas é tipo isso. Alguém vai ser esse cara ou essa mina que vai modificar a opinião pública assim como o Elon Musk em um tweet. Eu não sei se eu gostaria que a indústria dos podcasts de ficção crescesse, mas eu não… enfim, quero fazer isso acontecer, quero ajudar, contribuir para isso acontecer, mas eu não tenho certeza se isso vai acontecer. Deixe-me ver o que mais pode acontecer. Acho que muita agência e muito canal vão perder dinheiro com podcast ainda, porque vão apostar em ingredientes errados para fazer um podcast de sucesso achando que as coisas se sustentam não organicamente e somente com grana. Eu acho que, de alguma forma, vai surgir um novo player, talvez baseado em blockchain, que distribua a grana de publicidade de uma forma mais justa e assuma o papel que hoje é dos outros players. Já tem o Audius, que é uma plataforma de cripto, tem uma parceria com a (Resu) [00:36:33], que é lá do TikTok, que funciona assim: ela é um Spotify, um Deezer da vida que dá, ao invés de 30% para o criador, 90% para o criador. Eu acho que isso é meio inevitável acontecer, porque, com a descentralização, com essas paradas de cripto, com essas paradas de blockchain, essas tecnologias vão migrar também para os players e ter formas de pagamento mais justas, mas isso vai demorar ainda.

Ananda: Eu queria que tivesse uma maneira de ter um pouco mais de interação com o episódio. Eu vejo hoje que quem hospeda no Anchor pode fazer enquetes para os ouvintes, para a galera que está ouvindo ali e tal, e eu não vejo isso em outras plataformas de hospedagem. Eu queria que tivesse uma maneira, que nem no Youtube tem, que você comenta. Não sei se isso não seria um inferno para o podcaster. Talvez não fosse tão bom. Mas queria mais interação, sabe?

Alexandre Nickel: No Anchor também tem uma parada legal que o ouvinte pode mandar áudio, que eu acho muito legal, e o Anchor, por ser do Spotify, também tem o lance de você poder montar as playlists, botar umas músicas, que começaram a colocar agora, e já tem lá fora e vai ter vídeo aqui também no Anchor/Spotify. Isso é legal também.

Ananda: Pois é, então vamos ver daqui a um tempo. Mas legais as suas previsões.

Alexandre Nickel: O que você falou de interação é deixar mais híbrido entre rede social e podcasts, que nem quando a gente vê um vídeo do Youtube às vezes a gente lê o comentário. Ter esse hábito com o podcast, de ter uma plataforma que tenha essa interação. Eu não saco muito, eu sou meio ignorante para Twitch, para essas coisas, mas eu acho que talvez tenha alguma coisa por lá, não é?

Ananda: Tem uns podcasts que fazem o streaming ao vivo no Youtube, na Twitch, são superconectados digitalmente. Acho que pode ser interessante, mas é um trabalho.

Alexandre Nickel: Porque o Youtube, lá a gente lança o História Pros Brother, a gente tem vários vídeos não monetizados, porque eu falo merda. Mas às vezes é uma merda minúscula, e a Twitch eu sei que é superagressiva nessa… não é bem uma censura, então tem muita coisa que você não pode falar, tem muita gente que é banida da Twitch. Então tem esse desafio aí. Eu não sei exatamente… para não monetizar, o Youtube… qualquer coisa, qualquer palavra… a gente tem vários podcasts… é um podcast de História, aí às vezes a gente está falando sobre o Hitler, aí você tem que mencionar nazismo ou alguma coisa do tipo, aí já desmonetiza. Tem algumas coisas que desmonetizam fora de contexto em um podcast de História. Tem várias que desmonetizam, beleza, eu entendo, porque eu falei que eu queria tocar fogo na sua família, mas tem outras que não.

Ananda: Saquei. É, vamos ver. Esse podcast aqui, para você que está ouvindo, talvez esteja no Youtube. Não sei, não sou muito amiga do Youtube, não coloco muita coisa lá. Eu nunca gerenciei um canal, sabe? Vamos ver como vai ser isso.

Alexandre Nickel: Ah, é bom para pelo menos ver como é.

Ananda: Sim, para ser descoberto, é. Eu acho que o negócio… idealmente, eu queria ser descoberta por pessoas no Youtube e que essas pessoas fossem me ouvir em algum player, mas vamos ver como vai ser. Mas, Alexandre, obrigada. Diga-me onde as pessoas te encontram.

Alexandre Nickel: Eu estou pensando, porque eu estou usando cada vez menos redes sociais, mas é tudo @alexandrenickel: Alexandre Nickel – N-I-C-K-E-L, no Instagram e no Twitter. Mas eu não tenho usado tanto por motivos de: não tem me dado tanta alegria e eu prefiro só ver umas coisas no Reddit. Não tenho usado muito.

Ananda: E você está no Twitter também, não é?

Alexandre Nickel: Sim, no Twitter também é Alexandre Nickel.

Ananda: Ah, é, em todo lugar é Alexandre Nickel.

Alexandre Nickel: Mas às vezes eu passo um mês sem postar nada. Eu tenho uma presença muito vergonhosa. Para alguém que sabe como funciona, tenho uma presença muito vergonhosa nas redes sociais.

Ananda: E a Agência de Podcast, depois eu vou botar os contatos.

Alexandre Nickel: Pode mandar. Se tiver alguma ideia de um podcast de ficção, se tiver alguma parada que está fazendo, se tiver algum projeto, se tiver uns roteiros, pode mandar sim. É agenciadepodcast.com.br ou, por e-mail, contato@agenciadepodcast.com.br. Pode mandar.

Ananda: Legal, obrigada, Alexandre. Foi um prazer falar contigo depois de um tempo.

Alexandre Nickel: Eu que agradeço e voa, Canoas. Vamos lá.

Ananda: Voa, Canoas, e Cachoeirinha também. Enfim, piada interna. Obrigada, Alexandre, tchau, tchau.

Alexandre Nickel: Tchau, tchau, valeu.

[Trilha sonora]

[Recado]

[00:41:50]  

(FIM)

 

 

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