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Neste episódio, converso com a Bah Rodrigues, uma profissional repleta de experiências diversas no quesito locução, narração e apresentação. Ela tem 11 anos de experiência de mercado, além de ser co-fundadora e sócia diretora da Insidercast, junto com Clayton Lucio e Fábio Oliveira.

Aliás! Fizemos uma gravação 2 em 1, então o próximo episódio será com toda a galera do Insidercast – aguardem!

Produção e apresentação: Ananda Garcia
Edição: https://www.instagram.com/jenni_edita/

Como encontrar a Bah Rodrigues 
https://www.instagram.com/bahrodriguesoficial/
https://www.linkedin.com/in/bahrodrigues/

Pix do A Era do Áudio: aeraoaudio@gmail.com

Links afiliados (se você aderir a esses serviços utilizando o meu link, eu ganho uma pequena comissão)

Riverside: plataforma para gravação remota com opções de áudio e vídeo

Spreaker: plataforma de hospedagem e monetização de podcasts

 

——

(INÍCIO)

 

[00:00:00] 

[Vinheta de abertura]: A Era do Áudio.

[Abertura]

Ananda: Eu sou a Ananda Garcia e nesse podcast vou conversar e aprender com os profissionais que fazem os sons e os conteúdos que a gente ama ouvir. E se você também é dessa tribo, cola aqui e ative os seus ouvidos, porque você está na Era do Áudio.

[Recado]

[Trilha sonora]

Ananda: E a minha convidada de hoje tem um extenso currículo em produção de áudio e 11 anos de experiência de mercado, incluindo podcast, locução, rádios corporativas e até narração de audiolivros. Ela é cofundadora e sócia-diretora da InsiderCom e, em janeiro de 2021, lançou com seus colegas e sócios, Clayton Lucio e Fábio Oliveira, o InsiderCast, que é um podcast diário voltado para o mundo corporativo. Ela vive e respira áudio desde criança e, sem dúvida, vai inspirar muita gente. Bárbara Rodrigues, obrigada por estar aqui. Estou muito feliz de conversar contigo.

Bárbara: Oi, Ananda. Oi a todos os seus ouvintes. Poxa, é um prazer e uma honra falar de uma das coisas que eu mais amo, que é áudio, e que apresentação… eu já fiquei emocionada aqui já no começo. Obrigada.

Ananda: Ah, que bom. Obrigada, fico superfeliz de você estar aqui. E, Bárbara, como eu falei ali e a gente conversou previamente, antes dessa gravação, o seu despertar – essa palavra tão poética -, o seu interesse pelo áudio começou bem cedo, não é? Como que isso aconteceu?

Bárbara: Muito cedo, Ananda. Minha primeira lembrança muito viva de áudio é com música. Eu sou apaixonada por música desde que eu me entendo por gente, talvez desde a barriga da minha mãe. A minha primeira lembrança mais forte é com três anos de idade, eu em uma loja de discos, de CDs – isso nem existe mais hoje em dia, é quase uma raridade -, pedindo P. E o pessoal da loja falou assim: “P? Mas é o quê? É das Paquitas?”. Aqui no Brasil a gente tem a época da Xuxa, das Paquitas. E aí eu falando: “Não, é P de Phil Collins”.

[Trilha sonora]

Ananda: Uau.

Bárbara: E o Phil Collins, para uma criança de três anos, não é uma coisa muito comum, então todo mundo estranhou. De aí para frente é uma história muito longa e de muito amor com música, com tudo, então desde criança eu só me concentro quando eu tenho música por perto, quando tem alguma coisa tocando. Então eu estudava ouvindo rádio, uma rádio muito famosa aqui em São Paulo, que chama Alpha FM, que é líder de audiência até hoje e toca muitas músicas de flashback. Então é uma coisa muito presente e que determinou até a minha escolha de profissão.

Ananda: Sim. Você comentou que se concentra com áudio. Isso é algo que é interessante, porque, para mim, depende muito. Mesmo quando é uma música ou um podcast, algo que tenha palavras, que tenha letras, você ainda assim consegue se concentrar ou tem que ser uma coisa mais só melodia, só música?

Bárbara: Olha, por incrível que pareça, eu me concentro mais quando é com letra, quando tem alguém cantando, até do que com podcasts, que é o meu dia a dia, o meu arroz com feijão, é a minha outra paixão. Eu não me concentro tanto, por exemplo, se eu estou fazendo alguma atividade e ouvindo um podcast, porque ele me demanda uma atenção maior. Com a música já é o contrário, e a música também sempre me possibilitou uma interpretação de texto mais apurada. Eu percebo que hoje eu tenho uma noção melhor de quando eu vou ler alguma coisa, porque eu sempre tentei interpretar o que a letra dizia. Não era meio que cantar por cantar só, tinha sempre algo a mais, sabe?

Ananda: Uau.

Bárbara: E não só com texto escrito, mas também com o que a gente vai conversar mais para a frente, que foi a questão de fazer a narração, a locução dos audiolivros, porque exige uma interpretação de texto e uma naturalidade, e isso, de uma certa maneira, a música proporciona, porque a gente está cantando um sentimento, a gente está cantando uma questão ali, e muitas vezes a gente nem percebe a interpretação que precisa ser dada para aquilo. E é o que eu mais faço até hoje, de pegar letra de música, querer saber o que ela significa. Hoje, quem é mais jovem, que talvez esteja começando a pensar em trabalhar com áudio, talvez não conheça, mas antigamente existiam os encartes de CD, de LP, que vinha a letra. Então uma das minhas diversões era pegar, ler e ficar olhando para cantar certinho, para saber o que estava sendo dito.

Ananda: Eu amava, principalmente para aprender inglês, pegar as letras e entender o que o cantor estava falando, tentar entender o que era aquilo. Ah, fantástico.

Bárbara: Super, e hoje em dia quase não tem, então a gente recorre à internet para fazer esse papel. Até isso ajuda também, o listening. Eu entendo melhor inglês até do que eu falo, mais uma vez, por causa da música.

Ananda: Sim, uau. E, Bárbara, você entrou no mercado em 2010, certo?

Bárbara: Isso.

Ananda: É uma época que a gente não falava muito no potencial da mídia de áudio. Claro, existiam as estações de rádio, também já se ouvia falar em podcast, mas não era “Uau, essa é a grande tendência”. Então você foi atrás mais de uma paixão ou você enxergava um potencial de mercado naquilo? Como foi o seu processo de escolha para entrar nesse mundo?

Bárbara: Então, vamos voltar um pouquinho nessa história, vamos voltar um pouquinho para 2008, que foi quando eu entrei na faculdade. Eu escolhi Rádio e TV porque eu tinha dois desejos muito distintos e muito diferentes, mas que envolviam áudio e envolviam música: o primeiro era trabalhar nessa rádio que eu comentei, que é a Alpha FM, com programação, com alguma coisa que, de alguma maneira, me trouxesse para perto da música; e o outro ponto era trabalhar com produção de videoclipe, direção de videoclipe ou na MTV Brasil, que hoje já mudou a configuração e tal. Então foi por isso a minha escolha profissional de ir para Rádio e TV. O podcast entrou na minha vida, o áudio em si, trabalhar com conteúdo em áudio acabou sendo uma surpresa no meu caminho, porque eu precisava sair de um lugar que eu trabalhava e um amigo meu trabalhava em uma produtora de áudio, e ele falava que era demais o pessoal que trabalhava com ele, era um clima muito gostoso, era muito leve. Eu falei: “Poxa, não tem uma vaga aí? Quando surgir alguma coisa, me chama”. E eu lembro como se fosse hoje uma coisa que me marcou muito: quando eu fui conversar com a pessoa que depois veio a ser meu chefe, eu cheguei lá toda de terninho, currículo embaixo do braço, social, e naquele dia eu fiquei quase duas horas e meia falando com ele, e de música, meio que o papo que a gente está tendo aqui. Quando eu fui entregar o currículo, ele falou assim: “Olha, nem precisa me entregar, eu já sei muito mais de você pela conversa que a gente teve do que o que está no papel”.

Ananda: Nossa.

Bárbara: Um mês depois – foi uma cena meio novela -, eu fui mandada embora, de manhã, de onde eu trabalhava; quando foi duas horas depois, o meu celular tocou, era esse meu amigo falando: “Olha, você foi escolhida para vir trabalhar aqui com a gente”. Então a primeira experiência que eu tive de conteúdo em áudio foi com a Bolsa de Valores aqui de São Paulo – hoje, B3; na época, Bovespa, BM&FBOVESPA -, fazendo conteúdos para eles, de uma rádio que eles tinham e que era dividida, na verdade, em duas: eram a rádio Mulheres em Ação e a rádio Desafio, que é uma rádio voltada para o público feminino e a outra para jovens, que era o público que a Bolsa tinha como futuros investidores, como parte do plano deles de ser CPFs que eles queriam trazer para investir. E aí esse foi o meu primeiro contato em uma época em que eu só ouvia falar de podcast na faculdade, e mesmo assim era uma coisa muito insipiente aqui no Brasil. Todo mundo que ouvia e consumia podcast era de fora. A BBC de Londres fazia muito, muitas novelas em áudio também, coisa que aqui no Brasil a gente só foi ver e está começando a ver mais agora em 2020, 2021. O Spotify trouxe o Sofia, agora está trazendo essa nova série com a Mel Lisboa e com o Seu Jorge, coisa que não existia antes. Para a gente, era impensável você ter um conteúdo de ficção em áudio e com uma potência de audiência muito grande. Então todas as vezes que eu falava: “Com o que você trabalha?”, “Ah, eu trabalho com áudio”, “Nossa, mas você faz rádio? Você é formada em quê? É Rádio e TV? Ah, você conserta TV? Você conserta rádio?”. Quantas vezes eu já ouvi isso e quantas outras mais eu já ouvi: “Podcast? Podcast não dá dinheiro”.

Ananda: Sim.

Bárbara: “Imagina, é melhor você trocar de profissão. Vai para o mercado corporativo, faz administração, faz outra coisa”. Foi um pouquinho disso, Ananda.

Ananda: Então foi uma mistura, mas acho que teve um componente de paixão também na sua escolha, sem dúvida. Você acabou entrando ali, mas sem dúvida era algo que te chamava, não é?

Bárbara: Com certeza, eu acredito muito que a gente só faz bem-feito quando a gente faz com entrega e com paixão.

Ananda: Total.

Bárbara: E não é à toa que hoje a gente está gravando a uma semana de eu completar 11 anos de carreira nessa área, e acho que não é à toa que eu estou nesse marco. É uma paixão que se renova a cada dia. Eu fico encantada de ver tanto os convidados do InsiderCast como os nossos clientes se apaixonando pelo áudio, de ver muda a concepção deles quando a gente entrega o produto e fala: “Olha, está aqui”, ou quando a gente chama para o que a gente chama que é a nossa casa, que é o InsiderCast, que a pessoa fala: “Nossa, que bate-papo gostoso, foi tão leve. Eu tinha uma outra ideia”. Então até esse desbravar novas coisas também encanta, também traz paixão.

Ananda: Sim, e inclusive você fala dessa questão da leveza e você tem experiência criando programas, programetes, para rádios corporativas, pelo que eu entendi, não é? Você ficou alguns anos fazendo esse trabalho. Como você percebe a diferença entre uma rádio corporativa e um podcast corporativo ou um podcast de branded content? Produção, estilo de apresentação, equipe, tudo que você consegue pensar que é diferente nesses dois mundos. Eu confesso que eu não sei se as empresas ainda mantêm rádios corporativas. Eu acredito que algumas ainda sim, até tenho que fazer um episódio sobre isso um dia, quem sabe? Mas você pode falar um pouco da diferença desses dois formatos?

Bárbara: Então, Ananda, eu comecei fazendo, como eu comentei, rádio corporativa. E a rádio corporativa, diferente do podcast, exige uma programação maior tanto de conteúdos como de programação musical realmente, então a gente realmente precisa pensar como se fosse uma rádio ao vivo 24/7 – 24 horas por dia, sete dias por semana ali. Então os programetes entram no lugar dos comerciais, vamos dizer assim, então é quase uma autopropaganda da empresa ali para os colaboradores, de iniciativas, de novidades, de ações que a empresa está fazendo, entrevistas, inclusive, com as pessoas ali da empresa. Até talvez no nosso segundo bloco aqui do papo, o Fá vai estar com a gente, ele pode te falar do olhar de cliente, porque o Fábio foi meu cliente nessa época. Foi assim que eu conheci o Fábio, inclusive, fazendo uma rádio corporativa. Mas, estruturalmente falando, a diferença é que, em tese, uma rádio corporativa exige uma equipe um pouco maior e com competências um pouco diferentes. Então você precisa de um programador musical, você precisa pensar no estilo que essa rádio vai ter. Então, por exemplo, o que eu estava comentando da Bolsa: era uma rádio jovem, então a gente precisava de hits que estavam na parada, uma rádio realmente voltada a esse público; enquanto a rádio para mulheres era uma rádio mais classe A, mais adulta, então precisava de um outro estilo musical. Isso também implica na parte mais artística da locução, então para cada um desses blocos a gente precisava de um estilo diferente de locução. Não daria para eu usar a mesma locutora que fazia a rádio das mulheres, que tinha uma voz mais adulta, mais séria, mais sóbria, para a rádio jovem. Não conversaria com o público. Então são detalhes a serem pensados que no podcast a gente precisa, mas em menor escala, e o podcast acaba sendo mais objetivo, a gente produz o conteúdo para aquele episódio. Então, por exemplo, hoje a gente está falando aqui sobre a minha experiência; no próximo bloco, a gente vai falar sobre o InsiderCast. Em uma rádio, esse nosso papo aqui de meia hora, uma hora, ia virar no mínimo umas dez pílulas, uns dez boletins, porque é impensável você colocar um conteúdo desse tamanho em uma grade de programação. No branded content, é uma maneira que eu gosto muito de você fazer, entre aspas, uma venda para alguém, mas sem você ser aquela pessoa chata, aquele vendedor mala. Você não fica martelando na cabeça da pessoa: “Compre Baton, compre Baton, compre Baton”, “Esse é o melhor produto”, “Nossa, o meu podcast é o suprassumo do mercado, não compre outro”. É muito mais natural, é muito sutil. Você traz os benefícios daquela empresa, daquele produto, daquela marca, embedados naquele conteúdo que você quer contar, mas de uma maneira muito leve, às vezes batendo um papo, às vezes trazendo um convidado que não é necessariamente da empresa, mas que consome aquele serviço, e acaba sendo um chá da tarde quase ali. Então me encanta muito o branded content nesse sentido. Não sei se te respondi tudo, Ananda.

Ananda: Sim, é bem interessante. Então, na sua visão, as rádios corporativas acabam sendo mais autocentradas também, em uma linguagem de autopromoção maior do que é em um podcast de branded content, por exemplo.

Bárbara: É, na verdade, a gente sempre tentava, quando fazia rádio corporativa, não ser o que a gente chama de chapa branca, que é falar só de si; tentar trazer outros assuntos satélites, então notícias do dia, de economia, de esporte, de saúde, de prestação de serviço, até para não ficar só: “Ah, a minha empresa”. Mas não tem como não ser, de uma certa maneira, não tem como você não falar da empresa, porque é um veículo de comunicação interno.

Ananda: Então, eu ia justamente fazer essa pergunta aqui na minha ignorância. A rádio corporativa, você vai escutar onde? No site da empresa, por exemplo, algo do gênero, certo?

Bárbara: Isso, geralmente é feito um player para a rádio dentro do site da própria empresa ou dentro… como é que chama mesmo?

Ananda: Intranet, não é?

Bárbara: Isso mesmo, obrigada, Ananda. 

Ananda: Imagina.

Bárbara: Fica ali na intranet, às vezes até porque pode ter algum assunto muito sensível e que não pode ser posto para fora da empresa, mas geralmente é feito isso, é um player embedado no site ou às vezes um aplicativo também feito para aquela rádio específica. Geralmente quando é aplicativo, tem login e senha, até por essas questões mais éticas mesmo, para que outras pessoas não tenham acesso. Dificilmente você vê uma rádio corporativa pendurada em um player de áudio, no Deezer, Spotify, em outro lugar, ao contrário dos podcasts. Os podcasts geralmente são feitos, pensados não só para o público interno, mas também para o público externo. Muitas vezes o mesmo conteúdo é para atingir os dois públicos.

Ananda: Exato, até a forma de distribuição desses dois tipos de mídia acaba, como consequência, fazendo com que o conteúdo do podcast de branded content seja mais talvez democrático ou abrace mais assuntos do que a rádio corporativa que é consumida no próprio site da empresa. Então eu acho que isso acaba tendo um impacto mesmo que pequeno no tipo de conteúdo, sem dúvida.

Bárbara: Ah, com certeza.

[Trilha sonora]

Ananda: Mas uma coisa que você mencionou também foi a questão do estilo de locução, que você teve que, ao longo dos anos, adaptar e com certeza você evoluiu bastante em alguns aspectos – eu acho que na locução a gente vai também aprendendo e melhorando. Você pode falar um pouco mais desse processo de locutora?

Bárbara: Claro, Ananda. Uma das minhas outras paixões, e até por isso da locução, da narração, é dublagem. Eu sempre fui muito apaixonada por voz, por dublagem. Tem até um caso muito curioso… aliás, dois, que também determinaram a minha escolha profissional. Eu lembro, muito pequena, assistindo a um bastidor de como funcionava esse mundo de dublagem, então eu lembro que eu fiquei com medo, mas ao mesmo tempo eu fiquei encantada de ver aquilo, e eu lembro de ver um bastidor de um programa que existiu aqui no Brasil quando eu era criança – acredito que seja a mesma faixa mais ou menos que a sua, Ananda -, que era o Glub Glub, que era dos peixinhos. Lembra?

Ananda: Ah, sim. Eu gostava, mas eu tinha um pouco de medo ao mesmo tempo.

Bárbara: É, então vou te contar até como é que foi esse bastidor.

Ananda: Ai, me conta.

Bárbara: Eu assistia a um programa na Cultura que chamava eu acho que Vitrine ou Metrópoles, que falava sobre bastidores e eles estavam mostrando justamente o bastidor do Glub Glub, como era feito no chroma key e tal, os atores vestidos, e aquilo, de novo, me deu um medo, um susto, mas me veio a outra paixão da minha vida, que é o bastidor, como funcionam as coisas. Então, voltando à dublagem, eu vi aquilo, eu fiquei encantada, falei: “Cara, eu quero fazer isso um dia”, e aí a minha mãe me presenteou com um curso de dublagem, uma época, mas aí eu descobri que, para ser dublador, você precisa ser ator.

Ananda: Ah, sim.

Bárbara: Eu tinha o DRT de radialista, mas de atriz eu não tinha, então eu caí no teatro.

Ananda: Ah, então você também estudou teatro?

Bárbara: Eu estudei teatro por causa da dublagem.

Ananda: Uau.

Bárbara: Então não era porque “Ah, eu sonho em estar no palco, eu quero ser atriz, ganhar o Oscar”, não. É justamente porque eu queria ir para esse mundo, só que é um mundo muito fechado, é até um pouco complicado de você começar. E aí eu falei: “Mas, poxa, eu gosto tanto disso”, e acabou juntando, de novo, aquelas coisas que a gente não explica, que a vida proporciona para a gente, de juntar os caminhos, juntar o que eu já fazia de profissão, que era trabalhar com conteúdo em áudio, com a locução, e aí, depois de um período que eu fiquei desempregada e tal, eu fui trabalhar em um outro lugar onde me abriram as portas para isso, me ensinaram muito sobre locução, me deram as primeiras oportunidades de locução. E aí eu sempre tentava fazer algo próximo dos locutores que eu tinha de referência, mas geralmente a voz das locutoras, das mulheres, são vozes mais maduras, mais adultas, e a minha voz é quase de criança. Muitas vezes a pessoa liga para mim no telefone e fala assim: “Nossa, mas quantos anos você tem?”, e é tipo “Nossa, parece que você tem 18”, e às vezes eu perdia trabalho por isso, por ter a voz mais jovem. Mas aí eu fui chegando a um pouco de entender que eu não precisava copiar ninguém para ter o meu espaço, pelo contrário. Quanto mais eu fosse eu mesma na minha interpretação e na minha locução, mais as oportunidades se abririam. E isso me deu uma base muito boa quando eu fiz o que a gente vai conversar daqui a pouco, que foi o audiolivro. O audiolivro me deu essa noção de que, cara, você não precisa forçar uma voz que você não tem, uma velocidade que você não tem, querer ser quem você não é. Seja você. E aí até por isso depois um cliente acabou escolhendo a minha voz e a minha interpretação por ser diferente das outras que ele tinha visto, porque as outras eram muito plastificadas, muito engessadas, e ele queria naturalidade.

Ananda: Ah, que legal essa história. Uma coisa que tem me deixado bem contente nos últimos anos é que eu tenho visto tanto podcasts de conversas quanto podcasts narrativos, tanto ficcionais e não ficcionais, com vozes naturais de pessoas falando como elas falam. Não tem mais aquela coisa da voz impostada, da voz engessada do jornalista da TV, do rádio. Eu acho que essa foi uma evolução, umas barreiras que a gente conseguiu quebrar, então não tem voz ruim ou voz que não dá. De repente, a voz não dá para certo tipo de papel ou não dá para certas coisas, mas vai dar para outras muito bem, e eu gosto muito dessa aceitação de várias vozes. Isso é muito bom.

Bárbara: Exatamente. Permite agora uma naturalidade, uma pluralidade muito maior. É exatamente o que você falou, Ananda, não existe voz ruim e não existe um padrão a ser seguido. Hoje em dia, a gente não vê mais a voz impostada de locutora, aquela coisa assim, grave.

Ananda: E não soa agradável mais, soa meio fake, não é?

Bárbara: É, hoje em dia já parece tudo muito forçado. É uma coisa que você acaba não comprando mais, porque antigamente se comprava muito as coisas, principalmente na época da minha avó, “Ah, nossa, que voz linda, eu vou comprar porque o locutor tem essa voz de veludo” ou “Eu vou comprar aquilo porque…”, na época da minha avó, o Tarcísio Meira era a pessoa destaque, o galã, então “É ele que faz o anúncio? Eu vou comprar por causa dele, não pelo produto”.

Ananda: O conteúdo, é.

Bárbara: Hoje em dia, não, a gente busca mais o produto e ver a empresa, a reputação da empresa, o conteúdo, do que esse tipo de questão. É lindo ver isso, que as portas se abrem hoje para qualquer pessoa.

Ananda: E, Bárbara, falando um pouco sobre a sua experiência com narração de audiolivros, essa instituição para a qual você trabalhou era focada em pessoas cegas, é isso? Qual era o formato de construção desses audiolivros?

Bárbara: Você falou aí da Audible, justamente foi para a Audible o trabalho que eu acabei fazendo. A Fundação Dorina Nowill, que aqui no Brasil é referência para pessoas com baixa visão e deficientes… enfim, pessoas que têm deficiência visual, faz muitos projetos tanto internos para as pessoas que vão ali fazer tratamentos, então mais focados e não remunerados, muitas vezes, trabalhos filantrópicos, mas também faz muita produção de audiolivros para outras empresas, como a Audible, por exemplo. E aí foi muito curioso também como eu cheguei ali, porque sabe aquela coisa de a ocasião faz o ladrão? A necessidade faz a oportunidade acontecer. Eu estava precisando de um freela, aí eu vi um anúncio em uma rede social ali de que precisavam de voz jovem e eu mandei o meu material, e acabaram me chamando – olha lá, de novo, a gente às vezes acha que “Ah, eu não tenho perfil para isso ou para aquilo”, e aí se surpreende. Foi justamente porque a minha voz era jovem que eu fui escolhida para o trabalho.

Ananda: Que bacana. E eu tenho uma pergunta sobre o estilo de locução, porque eu conversei já com uma pessoa que estava mais ou menos entrando nesse mundo de audiolivros, e eu escuto alguns às vezes, e a narração é muito flat. Não tem atuação, é uma coisa muito linear, sabe?

Bárbara: E tem um porquê disso.

Ananda: Então, eu queria entender o porquê disso e também a minha curiosidade era se os audiolivros feitos para pessoas com deficiência visual eram diferentes e se tinham algum nível de atuação, ou se também tinham esse aspecto linear, entende? Eu até queria saber se existe alguma diferença nesse sentido.

Bárbara: Na verdade, o audiolivro, a gente não pode colocar tanta interpretação, porque a gente está contando uma história e a pessoa que está ouvindo é que tem que interpretar, então ela tem que ter a interpretação dela. A gente não pode colocar muito a nossa na hora de fazer a gravação. A ideia é que seja como se realmente a pessoa estivesse lendo. Quando a gente lê um livro, as palavras estão ali na página e cada um tem uma interpretação diferente. Então a ideia é que seja só realmente contada aquela história, lida de maneira mais flat, de maneira mais neutra, para que a pessoa leve a história para o caminho que ela acha mais viável. O livro em questão que eu fiz a narração tinha alguns diálogos, então, no diálogo, eu podia colocar um pouquinho de interpretação, mas mesmo assim era o mínimo possível. É um trabalho muito minucioso tecnicamente falando. Eu lembro até que eu estava passando por umas crises de sinusite e eu estava com o nariz um pouco entupido, fechado, e eu precisei refazer muitas partes, porque algumas coisas não passavam tecnicamente falando, porque eles falavam que fazia o barulho do nariz, o (backdrop) [00:25:56] nose, que eles falam.

Ananda: Nossa, ok.

Bárbara: E não passava, então é um trabalho muito limpo, extremamente técnico, extremamente detalhado. Eu gravei esse audiolivro – tinha mais ou menos 150 páginas – em questão de dez dias. Eu gravava dois, três capítulos por dia.

Ananda: Quantas horas por dia? Você lembra? Que te tomava.

Bárbara: Dava em média umas três, quatro horas por dia para fazer isso. Isso me ajudou muito no que a gente estava falando agora há pouco, que foi a interpretação, para a minha locução comercial, vamos dizer assim. Justamente porque eu tinha que entender aquilo, mas ao mesmo tempo eu não podia passar a minha interpretação de texto. Eu tinha que entender a situação, passar para a frente, mas ao mesmo tempo passar naturalidade e não podia ter inflexões, não podia ter reações. Então isso foi me ajudando a ter uma percepção de receber um texto e conseguir gravar quase de bate-pronto e, ao mesmo tempo, colocando o meu jeito de ser, o meu tom de voz, entendendo o que aquele texto pede. O teatro me ajudou muito também nessa questão. Aquelas coisas que a gente fala, que uma experiência vai juntando à outra, ou, como o Clayton diz muito no InsiderCast, ligar os pontos: um ponto foi ligando ao outro e foi fazendo essa colcha de retalhos.

Ananda: E vai acrescentando. E a sua respiração, algum exercício de voz, o teatro também te proporcionou isso?

Bárbara: Sim, e aí também vem o outro lado: a voz para o teatro é diferente de uma voz de locução. O teatro a gente tem que projetar muito mais. Não importa se a pessoa está na primeira fileira ou na última, ela tem que te ouvir claramente igual, e geralmente no teatro a gente não usa microfone.

Ananda: Eu ia fazer essa pergunta, por norma geralmente não usa, não é? É o trabalho vocal do ator ali que…

Bárbara: Exatamente, salvo devidas proporções, teatro musical, no caso, porque exige mais realmente por causa da música e da dança. Em geral, peças teatrais não usam, e até às vezes porque a própria companhia ou produção não tem a verba para isso, mas não se usa microfone. Então uma das coisas que a gente aprende no teatro é realmente a trabalhar a voz, então trabalhar mais a respiração vinda do diafragma, respirar mais pela barriga e menos pelo peito, tirar a voz de caixa, que a gente fala, que é a voz de peito, e realmente projetar mais a voz, justamente por esse respeito à primeira pessoa que está na fileira e à última que também está, para que as duas tenham a mesma possibilidade de ouvir, entender e interpretar o que está sendo dito. Então tudo foi colaborando muito para isso – de um sonho de criança que hoje é minha vida.

Ananda: Ah, que bacana. E recentemente você tem trabalhado mais exclusivamente com podcasts ou você faz de vez em quando alguma coisa mais nesse sentido de locução ou comercial, ou de livros, ou de vinhetas, alguma outra coisa assim? Você ainda faz alguma coisa desse tipo?

Bárbara: Faço bastante coisa às vezes comercial. Tem alguns podcasts que têm a minha voz na abertura. Hoje em dia é mais realmente quando alguém me chama para fazer esse trabalho. Hoje, o meu ganha-pão e a minha paixão, a minha vida, minha menina dos olhos, são os podcasts, principalmente o InsiderCast. E aí vem o outro sonho de menina, que era ter uma empresa própria, ter algo meu, e aí juntou tudo.

Ananda: Dona, proprietária.

Bárbara: Ah, desculpa, querida, eu sou dona, proprietária e sócia. Desculpa.

Ananda: Exatamente.

Bárbara: E é muito legal ver isso, principalmente, eu não vou negar para você, Ananda, é muito gostoso ver tudo isso ganhando corpo, gerando frutos e vendo todas aquelas pessoas que um dia falaram assim: “Podcast não dá dinheiro”, e hoje a gente vê esse boom que o Brasil está sofrendo, e não só o Brasil, como o mundo, nesse consumo de conteúdo em áudio. É muito legal.

Ananda: Sim, e muitas empresas também apostando no podcast e criando os seus próprios podcasts. Eu acho fantástico como essa mídia tem sido vista com mais valor, quase que como um blog. Uma empresa pode ter um blog, mas também pode ter um podcast. Isso me anima muito e também abre o mercado para os profissionais que querem trabalhar na área, que não querem só fazer o seu podcast independente, sozinho, sem ganhar nada; que querem tornar isso uma profissão.

Bárbara: Exatamente.

Ananda: Bárbara, você tem alguma dica para quem quer começar na área do áudio e de podcasts e está meio perdido e precisa de alguma luz?

Bárbara: Olha, Ananda, eu acho que uma das dicas principais e primeiras é estudar e buscar esse conhecimento mais técnico. Não desistir do sonho, não desistir da vontade. Tem excelentes cursos no mercado. Aqui no Brasil, existem instituições muito sérias e que trabalham muito bem essa questão – o Senac é uma delas, que faz formações técnicas tanto para quem quer trabalhar com a parte realmente mais técnica da questão, com edição, com sonorização, com sonoplastia, com programação de áudio, mas também com quem quer trabalhar com locução, que a gente falou bastante aqui hoje. Eles têm cursos maravilhosos, profissionais excelentes. Não desistir. Não é fácil, não vou ser empreendedora de palco aqui e falar que é tudo lindo e maravilhoso. A gente precisa, sim, de uma dedicação, mas principalmente não tente copiar ninguém no estilo de locução, no estilo de falar, de interpretar, porque o que vai te destacar do mercado é ser você. Você pode ter uma voz linda e ser péssimo de interpretação, e você pode ter uma voz de criança, como a minha, que um cliente vai falar que é isso que ele quer. Então não desista. Pode não ser fácil no começo, mas é superpossível.

Ananda: É muito interessante também que a gente sempre vive falando: “Ah, o áudio é intimidade, é conexão, é lealdade e tal”, então como você vai atingir essa sensação de conexão se você está tentando fazer uma locução totalmente, entre aspas, imparcial ou impessoal, ou totalmente imitando alguém? Não é possível. É cada um com seu jeito mesmo que tende a levar a um sucesso.

Bárbara: Exatamente. Uma das coisas que a gente fala muito é que o áudio é uma das formas mais íntimas de conexão com alguém. Por mais que você tenha televisão, Youtube e outras ferramentas, o áudio está literalmente no pé do seu ouvido e faz conexão direta entre o seu ouvido e o seu cérebro. É um caminho muito curto, muito próximo, muito intimista, como você falou, e realmente isso que é o mais lindo de você fazer locução, fazer podcast: você fala com uma pessoa, mas, na verdade, você está atingindo milhares. É muito próximo mesmo, é quase uma conversa ao pé do ouvido, literalmente. E eu sempre brinco que o rádio é uma das fontes de comunicação que nunca morre, ele só se renova, ele se transforma. Se hoje a gente está falando aqui, é porque o podcast é uma vedete do rádio.

Ananda: Total.

Bárbara: É uma transformação do que o bom e velho rádio já fazia desde a época do Orson Welles, do Cidadão Kane. Quantas pessoas foram impactadas porque achavam que realmente o planeta estava sendo invadido por marcianos e, na verdade, era só um programa de rádio. Então eu sou apaixonada por isso. Se eu pudesse, eu ficaria horas aqui falando ainda muito mais.

Ananda: Eu te entendo. Bom, eu também, tanto é que a vontade de criar esse podcast nasceu dessa paixão. Eu estou amando poder falar em cada episódio com pessoas que compartilham um pouco disso. Então obrigada mais uma vez, Bárbara. Mas você vai continuar aqui, porque a gente vai para a próxima parte desse episódio, agora com Clayton Lucio e Fábio Oliveira.

Bárbara: Obrigada, Ananda.

[Trilha sonora]

[Encerramento]

[00:34:03] 

(FIM)

 

 

 

 

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