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Neste episódio, Gabriel Tuller, que é autor do curso “Crie Seu Podcast“, conversa comigo sobre como é ensinar a arte do podcast para seus alunos, bem como os desafios envolvidos no processo. Ele, que é também é consultor e editor multimídia, e já trabalhou com grandes canais de Youtube e podcast, também compartilha um pouco sobre o mundo da edição e quais são as principais carreiras que já existem e que devem surgir no setor de podcasts no Brasil. Vem conferir esse papo!!

Produção e apresentação: Ananda Garcia
Edição: https://www.instagram.com/jenni_edita/

Gabriel Tuller:

https://gabrieltuller.com.br/
https://www.instagram.com/gabrieltuller/
https://twitter.com/gabrieltuller

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Pix do A Era do Áudio: aeraoaudio@gmail.com
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(INÍCIO)

 

[00:00:00] 

[Vinheta de abertura]: A Era do Áudio.

[Abertura]

Ananda: Eu sou a Ananda Garcia e nesse podcast vou conversar e aprender com os profissionais que fazem os sons e os conteúdos que a gente ama ouvir. E se você também é dessa tribo, cola aqui e ative os seus ouvidos, porque você está na Era do Áudio.

[Trilha sonora]

Ananda: E hoje, só para variar um pouco, a gente vai falar sobre podcast, que é o tema que até então está dominando essa primeira temporada da Era do Áudio. A gente vai falar sobre como é ensinar outras pessoas a fazerem podcast e também sobre as opções de carreira dentro desse mercado que ainda tem muito para crescer, eu espero. E quem se junta a nós hoje é um expert, eu adoro acompanhar os conteúdos dele e as caixinhas de pergunta que ele faz lá no Instagram. Ele começou como editor de podcasts, trabalha na área desde 2015 e hoje é, além de editor, produtor e professor na área. Já trabalhou com alguns dos maiores podcasts do país, como o Flow, o Podpah, e marcas como a Elanco Pets e a iFood. Gabriel Tuller, estou mega feliz de falar contigo hoje. Obrigada por estar aqui, por ter aceitado meu convite.

Gabriel Tuller: Ah, obrigado pelo convite, Ananda. É um prazer poder estar falando aqui e é um prazer falar de podcast. Eu adoro falar de podcast, então onde estiver falando sobre podcast, se me chamarem, eu vou e falo o tempo que for necessário.

Ananda: Que bom. Eu também. Gabriel, você está com o curso já faz alguns anos, se eu não me engano. Como é esse rolê de ensinar as pessoas a criarem o seu próprio programa de áudio?

Gabriel Tuller: Sim, eu estou com o curso desde novembro de 2019. Eu o fiz em formato de MVP, que a gente chama, então eu verifiquei quem tinha interesse em fazer esse tipo de coisa, lancei o curso sem ter todas as aulas completas. Eu fui meio que construindo-o junto com os alunos para ver o que eles queriam de conteúdo, o que eles queriam aprender, qual é a ordem das atividades. Então fui construindo isso junto com os alunos. A melhor coisa na hora acho que de ensinar é me perceber como alguém que produz conteúdo de fato e pode contribuir com outras pessoas com o que eu já sei. A gente tem um pouquinho daquela síndrome do impostor, de achar que, primeiro, o que a gente está falando é muito óbvio, que todo mundo já sabe, e outra que aquilo não faz diferença para a vida da pessoa que está consumindo, mas a partir do momento em que a gente começa a ensinar, a gente percebe que existe gente que não sabe aquilo que a gente sabe e é por isso que a gente ensina.

Ananda: É, e não tem pergunta burra ou pergunta estúpida, enfim, porque muitas vezes eu também já me parei pensando sobre isso em outros momentos, em que eu pensei em criar conteúdo sobre determinado assunto que eu domino. E aí eu pensava: “Nossa, as pessoas que estão me seguindo, os colegas da área vão ver que eu estou falando talvez obviedades, entre aspas, mas quem é o meu público, as pessoas com quem eu quero me comunicar não sabem isso”. Eu preciso, muitas vezes, falar o básico e tal, e aí eu acho que descer, talvez, desse, entre aspas, salto – não é bem a palavra ideal – para explicar para as pessoas eu acho bem interessante.

Gabriel Tuller: É, pois é, isso acaba acontecendo. No caso do meu curso para ensinar podcasters especificamente é muito mais difícil de ver algum tipo de material, então eu vi que eu aprendi meio que, como boa parte das pessoas que começaram a fazer podcast anos atrás, na tentativa e erro. Então ele ia tentando e ia errando, não sabia o que fazer, procurava ali fora, perguntava para outro amigo que já fazia seis meses antes de você, que descobriu a coisa nova. Hoje em dia, a gente tem essa abundância muito grande de conteúdo, mas ao mesmo tempo não tem tanta gente falando sobre criar podcast, criar ou pensar em podcast de forma profissional mesmo. Ou você tem alguém que é muito empolgado com o conteúdo de podcast e começa a fazer por conta própria ou você tem gente que é muito travada porque não sabe nem por onde começar, não sabe o que escolher de equipamento, não sabe como faz para publicá-lo, para estar em todas as plataformas e tal.

Ananda: Onde você acha que os seus alunos esbarram? Imagino que deva haver diferentes perfis de alunos, mas é mais assim: ok, transformar conteúdo em uma coisa estruturada… tenho muitas ideias, sou muito empolgado, mas como transformar isso em um podcast? Ou é a questão técnica? Onde você acha que eles empacam hoje?

Gabriel Tuller: Hoje o que eu vejo que mais trava os alunos ou que os desanima é o fato de o podcast ser uma mídia de longo prazo. É muito difícil eles entenderem isso logo de primeira, entenderem que demora um tempinho para você construir uma audiência, demora um tempo para você construir um relacionamento e tal, então manter um podcast por muito tempo eu vejo que é a maior dificuldade deles, seguido de “Como eu vou arranjar tempo na minha semana para poder fazer um podcast, editar, publicar e fazer todo o rolê que envolve criar podcast?”. Então acho que essa é a maior dificuldade.

Ananda: Interessante. Então você consegue ver muitas vezes o progresso deles. Quando eles são seus alunos, você consegue ver pessoas lançando seus primeiros episódios, animadas? Elas não procrastinam; elas começam a fazer o curso e vão lá e conseguem publicar, elas conseguem chegar a esse momento de fato, mas o desafio é manter, você diria? Seria mais ou menos isso?

Gabriel Tuller: Isso, exatamente. Em uma semana, elas consomem o curso inteiro superempolgadas, colocam no ar, mas aí depois, como o processo acaba se repetindo, chega um momento que você não tem mais o que aprender, é só manter aquilo que você está fazendo. Todo o processo que envolve a criação de podcast é repetitivo, ele vai se repetindo a cada semana, e é por isso que eu tenho também o grupo de alunos, em que todo mundo se incentiva. A minha ideia é que as pessoas se incentivem e: “Gente, estou com uma dúvida aqui”, “Estou com pouco ouvinte, o que eu faço?”, “Olha, eu tenho um podcast também há o mesmo tempo que você, seis meses, três meses, e eu estou fazendo isso aqui, está dando resultado. Faz assim também”. Então o grupo de alunos, eu acho algo muito positivo para os próprios alunos em si, em que eles vão se incentivando, uns aos outros; eu também vou dando esse incentivo para eles, o que é diferente de você só consumir um curso e você não ter esse contato, tanto com professor, que eu tiro dúvidas pontuais, quanto com os outros alunos ali, seus colegas de turma, que também podem estar passando por momentos parecidos com você, podem estar utilizando os mesmos programas que você e eles podem tirar dúvidas melhor do que o próprio professor às vezes.

Ananda: É, esse aspecto da comunidade é muito bom para geral. É isso, esse incentivo e até um pouquinho de compromisso entre um e outro.

Gabriel Tuller: Sim.

Ananda: Assim: “Ah, eu estou fazendo isso, você está fazendo aquilo” e tal e mostrar o progresso de cada um. E, por curiosidade, Gabriel, qual é o perfil da galera que te procura, que são o futuro do podcast do Brasil? Quem sabe? São mais empreendedores que querem podcast para os seus negócios, querem ganhar autoridade, aquela coisa com o meu podcast, ou é uma galera mais apaixonada por um tema? Ou quem sabe estudantes de Jornalismo? Qual é o perfil deles?

Gabriel Tuller: Está começando a diversificar agora o perfil das pessoas, mas quem chegava muito até mim, até pelo meu trabalho na internet com outros influenciadores, com edição e tal, então chegava muita gente que era empolgada com o assunto: “Ah, te acompanho do (inint) [00:08:01]” – que é um podcast que eu edito – “Queria fazer um podcast também igual ao dele”, sobre o mesmo assunto, sobre aquilo lá. Então vem muita gente por hobby, que é apaixonada por um assunto e quer falar sobre aquele assunto, seguido de… agora estão começando a vir alguns empresários, algumas pessoas que são empreendedoras, estão começando agora, autônomos que estão começando a querer colocar ou se prontificar a botar sua autoridade na internet. Esse perfil de pessoas me procura mais não para o curso, mas sim para consultoria, que é algo mais direcionado para eles.

Ananda: Claro, é um serviço que você também oferece, então, para empresas e…

Gabriel Tuller: Sim, porque o curso envolve uma curva de aprendizado. O empreendedor tem outra opção, que é ou me contratar, contratar a minha empresa para executar isso para ele ou ele treinar um time, ou, enfim, botar alguém do time dele para poder fazer internamente na empresa dele, e aí a consultoria serve para isso, para que eu possa direcionar de acordo com o que ele faz. O que acontece muito é que às vezes o cara já comprou os equipamentos todos, ele gastou 10, 20, 30 mil até comprando equipamento, comprando câmera, comprando microfone, e aí depois ele vem atrás da consultoria e pergunta: “E aí, o que eu faço com esses equipamentos que eu comprei aqui? Como é que eu os uso?”. E aí a gente tem que fazer isso acontecer.

Ananda: Sim, mas, cá entre nós, o ideal seria talvez primeiro procurar a consultoria e até você dar as orientações sobre os equipamentos, não?

Gabriel Tuller: Exatamente. Primeiro você procura o que fazer e depois você toma uma ação a partir do que foi direcionado pelo profissional. É tipo se automedicar e depois ir ao médico…

Ananda: É isso aí.

Gabriel Tuller: … perguntar: “E aí, tomei esse remédio aqui, está bom?”.

Ananda: Gabriel, conta um pouco da sua relação com as suas duas principais vertentes de trabalho. Então você é um profissional de áudio e você tira mais a sua satisfação de onde? E satisfação e também dinheiro, se você quiser falar também, está tudo bem. O que você curte mais: é essa experiência de ter uma comunidade, de ensinar aos seus alunos, ou a rotina de trabalho efetivamente produzindo e editando áudio? Porque eu imagino que sejam rotinas completamente diferentes, estilos diferentes de trabalho, ou estou enganada?

[00:09:59] 

Gabriel Tuller: Não, é isso mesmo. Eu tenho uma personalidade que é um pouco mais introspectiva, então eu adoro botar o fone de ouvido e ficar aqui editando o dia inteiro sem ninguém, sem precisar falar com ninguém, sem precisar interagir com ninguém, só entrar aqui no meu mundinho e criar dentro da edição. Com a demanda de curso, acaba me puxando para poder me expor mais, para poder publicar no Instagram, para poder abrir caixinha de pergunta, responder às mesmas perguntas todos os dias, botar algum conteúdo no feed baseado nas dúvidas das pessoas, enfim, ela me puxa para eu me expor mais e responder dúvida de alunos e tudo mais. Isso é bom, porque exercita um pouco da minha paciência e exercita também a minha até empatia, eu diria. A gente, às vezes, quando sabe de algum assunto: “Nossa, isso é muito fácil, por que você está perguntando isso se você resolveria no Google em cinco minutos procurando a mesma coisa?”, mas aí a gente exercita isso de entender que nem todo mundo é como a gente é. Eu sou um cara muito curioso, então eu vou pesquisar review até não poder mais de equipamento de áudio ou de como fazer determinada atividade no programa X, Y, Z; mas tem gente que não, tem gente que vai simplesmente travar e perguntar para alguém que ele acha que já é autoridade para poder saber mais. Mas, se eu tivesse que escolher, eu escolheria só ficar aqui dentro do meu escritório com fone de ouvido editando sem interagir com ninguém, somente entregar o áudio e tudo mais. Eu adoro essa parte de criar, é o que eu mais gosto de fazer, e é até por isso que eu não deixei de prestar serviço a partir do momento em que eu comecei a vender o curso.

Ananda: É uma característica importante para quem quer trabalhar com edição de áudio, você acredita? Poder ter essa capacidade de trabalhar, entre aspas, sozinho, muito focado, ficar horas focado ouvindo e reouvindo a mesma coisa? Porque para muitos pode ser um trabalho até entediante, eu imagino, não é? Você acha que isso é uma característica importante nessa profissão?

Gabriel Tuller: Olha, se não é importante você ter isso, é importante você desenvolver, porque, por exemplo, eu sou formado em Design Gráfico. Então, diferente de fazer uma peça de design propriamente dita para rede social ou o que quer que seja, em que eu posso conversar com outras pessoas enquanto eu estou fazendo essa atividade mais mecânica, talvez, editar áudio exige um compromisso de você colocar o fone de ouvido e imergir naquele conteúdo. É necessário que você faça essa imersão no áudio. É impossível você, enquanto está conversando, estar editando. É impossível, não tem como fazer isso, e quem fala que consegue fazer isso está mentindo, porque ou não está editando direito ou não está conversando direito. É uma característica que é necessária para um editor, sim.

Ananda: Os primeiros episódios do Caravela Brasileira, que é o meu outro podcast, eu acho que eu editei os primeiros quatro – ah, ficou um desastre, não vou nem comentar – e eu lembro que eu mergulhava naquilo, eu era absorvida por aquela tela e por aqueles fones e depois parecia que a minha alma tinha sido sugada pelo além, era uma coisa intensa. E, claro, o episódio era, sei lá, uma hora, demorava três horas para editar, mas, claro, eu, uma pessoa que não sou uma profissional da área. 

Gabriel Tuller: Sim.

Ananda: Mas eu sempre pensei: eu acho que tem que gostar muito daquilo.

Gabriel Tuller: Sim, tem, e aí depende também da complexidade do áudio. Imagina o Nerdcast de RPG, que é um baita de um longa-metragem em formato de podcast, o quanto que não tem que imergir para que a experiência seja diferente e excepcional para quem está ouvindo, o quanto de tempo gasto, tempo investido, não vai ser para poder transformar aquela experiência. Impossível você fazer isso trocando ideia com outra pessoa.

[Trilha sonora]

Ananda: Em relação ao mercado do podcast no Brasil, esse tema que todo ano a gente fala: “Ah, é o ano do podcast no Brasil”, “Não, agora é o ano do podcast no Brasil”, sempre é o ano do podcast no Brasil, gente.

Gabriel Tuller: Sim.

Ananda: De fato, eu acho que desde 2018 para 2019 começou a dar uma evoluída grande, a gente está vendo mais e mais podcasts, a gente começa a ver podcasters profissionais, mas o que eu percebo, de modo geral, é que às vezes o podcast é uma coisa até secundária: “Ah, eu tenho canal no Youtube, mas também tenho podcast”. Me parece que ainda não é o conteúdo ou a mídia principal que é o ganha-pão daquelas pessoas, parece que a gente ainda não chegou lá. O que você acha que falta ou quais os desafios, na sua opinião, para a gente alcançar esse momento em que, fazendo aquela comparação: “O podcaster vai ganhar tanto quanto o youtuber”, por exemplo.

Gabriel Tuller: O que precisa, para mim, é uma maturidade maior em relação a entender que o podcaster ou quem está começando a fazer podcast precisa se colocar, precisa pensar como uma empresa de si mesmo. A gente tem muitos amadores, muita gente que faz por hobby – que não tem nada de errado quanto a isso -, mas poucos conseguem virar a chavinha de entender que aquilo precisa ser profissional para ele começar a monetizar. Então precisa ter uma frequência, precisa ter um mínimo de qualidade, precisa ter um mínimo de investimento em si mesmo, investimento no próprio podcast dele para poder entender que aquilo vai ser algo que possa gerar uma renda para ele, então acho que esse pensamento de profissionalização é algo que eu sinto que falta bastante aqui no mercado brasileiro, o que também começou assim no mercado de influenciadores. Ele é um pouco assim, pensando no youtuber, pensando no influenciador de rede social, e ainda é um pouco assim. O que acaba acontecendo é que as agências de publicidade acabaram vendo nessas pessoas boas fontes de renda para elas mesmas e elas entram em contato, abordam e os convidam para poder gerar renda, o que não aconteceu ainda com o podcasters, porque ainda está muito inicial e também é um pouco mais difícil de as próprias agências e de as próprias pessoas entenderem o que é o podcast. Com esses anos do podcast no Brasil aumentando, a gente teve uma mudança muito grande na mídia, então hoje em dia, enquanto poucas pessoas pensam em fazer um podcast somente em áudio, que é o que a gente está fazendo aqui, muita gente já pensa em comprar um câmera, comprar uma mesa de corte, comprar microfones, braços articulados e um monte de coisas e chamar as pessoas presencialmente. Eu já tive dúvidas, por exemplo, fazendo um parêntese aqui, de: “Eu só consigo gravar a distância, o meu podcast não vai dar certo. Como eu faço isso?”. Você vê que mudou bastante a cabeça de quem está entrando na mídia de podcast, e muita gente está querendo começar para ser uma espécie de youtuber 2.0 hoje em dia. Então o cara cria um canal no Youtube, ele tem o canal de cortes do podcast dele e ele começa a convidar um monte de pessoas e falar aleatoriamente esperando que aquilo vá tornar, por algum motivo divino, sei lá, que aquilo vai ser uma fonte de renda para ele, que ele vai conseguir em um mês e meio: primeiro, reaver o dinheiro que ele investiu; segundo, ele vai largar o emprego dele e poder fazer isso. Enquanto a gente não tiver essa maturidade de entender que o podcast tem diferentes formatos, ele tem diferentes formas de fazer as coisas acontecerem, eu acho muito difícil a gente conseguir pensar nisso, pensar de forma profissional no próprio mercado de podcast. Uma coisa que eu vejo muito nos Estados Unidos – eu acompanho o mercado de lá – é que lá, desde o início, o cara está começando a fazer o podcast, ele já pensa em mídia kit, ele já pensa em criar audiência, ele já pensa em criar uma comunidade, ele já pensa em produtos de lojinha dele, ainda que tenha pouquíssima gente que vá comprar. O americano adora esse negócio de fazer camiseta para tudo. Então ele já começa a fazer isso, ele já entra em comunidades, ele já compra cursos, ele já tenta começar a se profissionalizar para fazer aquilo. Ainda que ele tenha 20, 30 ouvintes ele já consegue entrar em contato com anunciante, colocar um spot de patrocínio no podcast dele. Aqui a gente não tem muito essa maturidade, a gente acha que simplesmente fazer e eu me esforçar muito as pessoas vão olhar o que eu estou fazendo…

Ananda: As marcas vão procurar automaticamente, sim.

Gabriel Tuller: Isso, exatamente. A gente se baseia nas exceções, que são os youtubers gigantes, os caras que estão há dois anos fazendo Youtube e estouraram, e acha que é assim que vai acontecer, só que em um mês.

Ananda: É.

Gabriel Tuller: É, eu acho que é meio isso que falta para a gente entender o mercado de profissionalização de podcast, entender que ele tem diferentes formatos que dá para a gente fazer. Não precisam ser todos do estilo Flow e Podpah, não precisa ser assim, dá para fazer de outros formatos, dá para fazer storytelling para empresas, dá para fazer entrevistas com outras pessoas, enfim, tem infinitos formatos e dá para a gente fazer isso sem precisar esperar que as coisas aconteçam por sorte, mas sim fazendo por conta própria.

Ananda: E, Gabriel, você trabalha, tem uma relação com grandes criadores de conteúdo do Brasil, podcasters até, youtubers também. A figura do, digamos, representante comercial para o podcast… eu imagino que os podcasters grandes tenham essa pessoa. É óbvio, a pessoa que está começando por hobby provavelmente não tem como pagar – eu não vou contratar… eu, Ananda, comecei, tenho cinco episódios, contratar um agente para me divulgar, uma pessoa que eu não posso pagar -, mas qual você acha que é a importância desse tipo de profissão e até se existissem mais pessoas que fossem representantes comerciais para podcast? Às vezes eu acho que falta uma pecinha nesse conjunto de coisas, eu fico pensando assim, sei lá: “Eu tenho um podcast de médio porte e tem marcas que poderiam super se interessar nesse podcast, mas eu tenho a cabeça de um criador de conteúdo, eu não tenho aquela cabeça comercial, aquele tino para vendas, não sei me vender”. Parece que falta uma peça no meio do caminho que poderia ajudar esses podcasts a serem encontrados por marcas. Sei lá, estou viajando? O que você acha?

Gabriel Tuller: É um caminho mesmo, é um caminho muito interessante, mas, voltando um pouquinho, eu acredito que o podcasters precisa passar por essa experiência de não saber que ele não tem tino de vendas, que ele não consegue fazer um acordo comercial, que ele não consegue fazer isso sozinho, e aí sim entrar em contato com o profissional; e, por outro lado, entender que esse profissional também precisa entender que existe esse mercado crescente e ele está perdendo a oportunidade de entrar nesse mercado. Ainda que ele não cobre um valor muito grande de comissão para poder fazer esse tipo de serviço, ele já poderia conversar com podcasts de médio porte, entrar em contato com eles e começar a profissionalizar esses podcasts, porque, como eu falei, boa parte deles ainda não tem nem mídia kit, eles não sabem como fazer esse tipo de proposta comercial, nem sabem que existe isso, para ser bem sincero. Tem gente que acha, como eu falei, que é sorte: simplesmente uma marca vai bater na minha porta e vai anunciar. Eu estou fazendo podcast em um dia, no outro o iFood entra em contato comigo e fala: “Olha, eu quero botar a minha marca aí com você”. Mas ele não sabe os números, ele não tem um MEI, ele não consegue emitir nota, ele não sabe essas etapas, a marca dele não está registrada, ele não consegue pensar nisso. Então eu acho que falta profissional, sim, mas falta, primeiro, esse profissional ensinando aos podcasters que eles precisam tentar fazer isso e entrando em contato com esses podcasters para poder oferecer esse tipo de serviço. Essa é uma das coisas que eu acabo fazendo no curso meio que indiretamente, mas eu estou prestando atenção e vendo que, quanto mais gente está chegando para me pedir consultoria, eu vejo que isso é uma crescente. Os podcasters que estão começando a crescer não sabem o que fazem, e quem está começando agora, que tem essa possibilidade de já começar certinho, de já entender e se entender dentro do mercado, começar a pensar e oferecer isso para marcas e tal.

[00:21:07] 

Ananda: Sim. É, quem sabe esse vai ser um próximo passo. Eu concordo. Eu acho que esse é o gap – usando palavras americanizadas – que tem aí na indústria, dessa questão de as pessoas aprenderem que é preciso pensar como uma empresa de si próprio. Isso me fez lembrar uma outra questão que também quero muito a sua opinião em relação a isso. Eu estudei Jornalismo, Gabriel, e no Jornalismo, pelo menos na faculdade que eu fiz, a gente era criado para trabalhar na TV ou na rádio ou no jornal, mas nas grandes mídias, nos grandes canais, e quem não fazia isso era (luz) [00:21:39], não tinha um pensamento empreendedor ou um pensamento “Pode ser além disso”, era um pouco limitado. Resumindo: na minha geração – eu me formei em 2013 -, as formações de rádio e TV de Jornalismo eram voltadas para trabalhar nas grandes mídias dentro do formato mais tradicional. E eu não sei se tu tens alunos que são do Jornalismo, de rádio etc. Eu queria saber se hoje as faculdades estão ensinando também para além das mídias tradicionais ou ainda falta?

Gabriel Tuller: Olha, ainda falta bastante, porque faculdade demora um tempo para se adaptar às novas realidades. Voltando um pouquinho: a minha faculdade, eu fiz de Design Gráfico, e o meu TCC na faculdade, em 2015, foi sobre podcasts. Era para criar um podcast para a agência de publicidade que eu trabalhava, então eu tive que fazer todo o trabalho de briefing, de criação de marca, criação de projeção e execução do projeto de podcast lá para a empresa. Fiz todo um trabalho de identificar a potencialidade… se eu for dar uma olhada no trabalho, boa parte das coisas que estão acontecendo hoje em dia eu já estava falando lá em 2015. E eu tive que vender para o meu professor e ensinar para ele o que era um podcast, porque ele não sabia o que era, e ele já era um professor com 20, 30 anos de magistério, de ensino. Ele já tinha muito tempo, ele já sabia muita coisa, claro, sobre design, sobre marketing, sobre isso, mas eu sinto que hoje em dia ainda não mudou muita coisa. Poucos entendem. Algumas faculdades – talvez faculdades mais particulares, universidades particulares – acabam se atualizando com mais rapidez, então eles pedem para alunos de Jornalismo começarem um projeto de podcast. Eu já vi alguns professores de ensino médio já começando a fazer também esse tipo de tarefa para os alunos: criar um podcast, fazerem e executarem esse projeto. Então está começando a mexer, a melhorar, mas eu ainda sinto que falta muito ainda para a gente caminhar em relação ao estudo formal sobre o podcast, sobre o que ele pode fazer, sobre as potencialidades dele, sobre o potencial da mídia como um todo.

Ananda: É, eu acho que as universidades em geral têm um currículo mais engessado, demoram mais para se atualizarem; não é sempre que o professor vem do mercado, muitas vezes ele é um acadêmico apenas, então isso se reflete. Óbvio que é importante e tudo. Quando eu penso, hoje, em fazer uma nova formação sobre podcast, aprender isso ou aquilo, eu sempre penso nos cursos que são ali mais rápidos, mais práticos, mais pontuais.

Gabriel Tuller: Por outro lado, você tem esses cursos mais rápidos e são diretos, mas eles não têm a rigidez, eu diria, ou a acurácia de um estudo formal, então ele não vai saber qual é a ordem de começar a ensinar determinada atividade. Ele vai simplesmente falar: “Olha, eu faço assim e é assim que eu faço”. Ele vai só fazer como ele faz, ele não vai pensar na experiência do aluno recebendo aquela informação ou tendo essa graduação, essa gradação de conteúdo de que ele precisa começar por isso antes de passar pela outra etapa. Antes de eu ensinar, por exemplo aqui, falando de edição, o aluno a cortar o áudio, eu preciso ensiná-lo a baixar o programa, abrir o programa, criar uma pastinha com os áudios e importar aquele áudio para o programa. Aí sim ele vai aprender a cortar. O que essas pessoas de cursos mais rápidos fazem? Eles falam: “Olha, abre o programa, já corta aqui, esse aqui é o atalho que você vai pegar e vai cortar e tudo mais e é assim que eu faço. Se você não entendeu, bota em velocidade 0,5 e você vê o que eu estou fazendo”. Enquanto o ensino tradicional tem essa preocupação com a experiência do aluno em aprender, em aprendizado, o ensino hoje em dia não tem nenhuma preocupação com isso, ele simplesmente vai só fazer uma espécie de gravar a tela de como ele faz e falar: “Se vira aí, porque eu me virei”.

[Trilha sonora]

Ananda: Já que a gente está falando sobre as profissões, sobre as formações, para a atuação dentro do setor de podcast, quais são os principais cargos, digamos assim, Gabriel, que a gente encontra hoje quando a gente pensa no podcast sendo produzido no âmbito mais de uma rede de podcasts, de uma agência de podcasts, de um veículo de comunicação? É diferente do podcasters que começa a fazer e ele faz tudo.

Gabriel Tuller: Sim. Hoje, o que eu vejo: como o mercado está começando a amadurecer, ele está importando atividades que já eram executadas em outros âmbitos, em outros locais. Você pensa muito, hoje, que algumas agências e muitas produtoras de podcasts procuram muito não só por editores de áudio propriamente ditos, mas elas procuram por um gerente de projetos, por exemplo, que é um profissional que vai organizar as etapas e demandas de cada um daqueles projetos executados para uma marca específica. Então ele vai (colher) [00:26:39] o briefing, ele vai entrar em contato com o jornalista, com alguém que vai fazer a pesquisa de pauta, e aí, falando de podcast mais profissionais, não podcasts como hobby. Então ele vai agendar com as pessoas que vão participar daquela chamada, ele vai orientar em relação à gravação. O gerente de projetos é quase um produtor, então ele vai cuidar dessas etapas para que tudo ocorra da melhor maneira possível para que o projeto seja executado. Outro emprego que eu acho que está começando também a aparecer, e aí voltado especificamente para jornalistas, é o de apresentador. Existem marcas que não querem colocar um colaborador delas para poder executar um projeto de podcast, então elas contratam um apresentador que vai representar a marca para poder fazer podcast daquela empresa específica, e aí que o jornalista pode deitar e rolar fazendo esse tipo de atividade. E quem trabalha com rádio e TV pode ser um locutor. Eu tenho um trabalho que eu executei, que eu fiz para o iFood – foi com uma jornalista que é locutora. Então ela fez a locução de uma vinheta em que a gente construiu essa vinheta para o iFood. E é uma atividade também interessante, além de só editor de áudio ou gerente de projetos. Então existe um mercado muito grande no backstage do podcast, então tem muita demanda para pesquisa de pauta, tem muita demanda para gerente de projetos, tem muita demanda para produtor – a pessoa que vai organizar as gravações, que vai orientar as pessoas que estão gravando. Existe muita demanda para o próprio videomaker, que geralmente tem o equipamento de áudio que pode ir até o local de gravação, fazer essa gravação localmente ao invés de remotamente com o equipamento dele profissional e depois entregar para a produtora fazer a edição e continuar o serviço, continuar o trabalho. Então muita demanda para backstage de podcast, que não está necessariamente ligado a fazer propriamente a edição ou a gravação do áudio. Isso também tem, isso talvez seja o mais visível para a gente, mas existe muito essa demanda de backstage.

Ananda: Até para produzir essa pauta para a nossa conversa de hoje eu fui reescutar os créditos de um dos episódios da Praia dos Ossos, que é um podcast narrativo muito bom – quem não ouviu, escute. E aí eu estava escutando os créditos finais, eram mais de dez profissionais, mais de dez cargos diferentes. Claro que um podcast narrativo, na minha percepção, envolve também muito trabalho, trabalho de pesquisa, captação externa e tudo mais, mas é um podcast que os créditos eram mais de dez. De novo, pensar no podcast sem ser só: “Eu, que sou fanática por, sei lá, aviões, falando no microfone”. Não, pode ser uma coisa mais robusta no âmbito empresarial, e até a identidade sonora, a identidade visual, a coordenação digital, a pessoa que vai transformar aqueles áudios ou vídeos, vai fazer aqueles audio flyers ou audiogramas para as redes sociais. Tudo isso. Pode ser um produto de mídia que vai funcionar como se fosse um canal no Youtube, não sei.

Gabriel Tuller: Sim, mas é isso mesmo, ele é um produto de mídia e pouca gente o vê como um produto de mídia. E é por isso que tem muito mercado pela frente, tem muito mercado a ser explorado dentro da mídia de podcast, porque a mídia de podcast pode ter diferentes profissionais trabalhando em prol de um mesmo objetivo. Assim como você tem em uma agência de publicidade uma campanha de marketing, vamos supor aqui: pode ter um designer, pode ter alguém que vai cuidar do branding, alguém que vai cuidar de um hotsite, alguém que vai cuidar da campanha, do lançamento, de anúncio patrocinado, de ativação do podcast com influenciadores, por exemplo, um gerente comercial entrando em contato com marcas para poder anunciar dentro do… ela pode trabalhar a partir disso, pode acabar expandindo para esses outros profissionais.

[00:30:11] 

Ananda: É, e tem redes de podcast, até de meios de comunicação… antes de entrar nesse mundo, eu tinha a ingênua percepção de que aquela pessoa que está apresentando faz tudo, e aí depois eu fui saber que não, a pessoa chega, muitas vezes, e apresenta. Ela tem uma pauta, ela chega e apresenta, mas tem uma série de profissionais ali que produzem. Então quem sabe você que está ouvindo, que se interessa, pode pensar: “Quem sabe eu posso ser um produtor de podcast para um meio de comunicação?” etc. É interessante pensar nisso, e, de novo, eu espero que as faculdades pensem nisso, porque na minha época não pensavam. E fica aqui a minha frustração. E outra coisa também falando das profissionais e voltando também lá na parte que a gente falou de edição: esses dias, eu li uma entrevista que falava sobre equipes para podcasts narrativos e da dificuldade de encontrar um profissional que possa fazer tanto a montagem quanto o design de som. E aí eu queria que você falasse um pouco sobre qual é a diferença, se existe diferença, por que certos profissionais são tão difíceis e se é verdade que é difícil de encontrar profissional de montagem e design de som no Brasil.

Gabriel Tuller: Certo, aqui vai minha percepção baseada em minha vivência: a diferença entre o cara que vai ser o montador e a pessoa que vai cuidar do design de som. Para mim, o design de som envolve mais etapas em relação ao entendimento daquele projeto. O design de som vai cuidar da ambientação e da experiência do ouvinte propriamente dita, como aquele ouvinte vai se sentir ou como eu quero que aquele ouvinte se sinta quando estiver escutando esse trecho, esse segmento aqui do meu podcast. Então o design de som vai cuidar disso, dessa equalização do áudio, de entender que às vezes a música precisa estar mais alta e às vezes tem que colocar os passos de uma pessoa porque eu estou citando alguma coisa. Ele vai cuidar dessa experiência. O montador vai ser quase que um decupador, digamos assim. Ele vai só fazer os cortes de erros e entregar para esse profissional do design de som. É isso que eu entendo como a diferença entre esses dois profissionais. E aí entra o problema: de fato, é muito difícil de a gente encontrar profissionais assim, porque: primeiro, ou eles são vindos diretamente da edição de vídeo, e às vezes são gente muito crua, digamos assim, em relação a entendimento de projeto, de prazos, de entrega, de qualidade mesmo, de mínimo de qualidade que ele precisa entregar para aquilo, então às vezes é um adolescente que se empolgou com edição de vídeo e aí botam-no para editar o áudio e ele começa a fazer, porque é muito parecido; por outro lado, você tem aqueles profissionais que são os dinossauros do mercado, então são profissionais que são muito difíceis de você lidar, porque eles fazem do jeito deles, eles já têm 30 anos de experiência na área de design de som e eles não vão receber ordens de uma menina de 25 anos que está falando para eles o que eles têm que fazer naquele momento, porque ela não sabe o que tem que fazer, eles que sabem o que tem, então fica nesse embate muito grande, além de esses profissionais cobrarem preços muito caros que às vezes… de novo, o profissional lá, o garoto que está entrando agora para editar cobra muito mais barato. Então às vezes a agência acaba equilibrando e falando: “Ah, dá para pagar aqui e depois eu resolver isso do que pagar muito mais caro para um profissional da área do mercado e ter esse problema de choque entre gerações e entre conteúdo e tudo mais”. A outra dificuldade que eu vejo é de encontrar profissionais que são capacitados não só em áudio, mas em entendimento do branding que envolve todo o processo daquele podcast. Às vezes, o editor – tanto o garoto que está começando agora quanto o cara que tem 30 anos de mercado – não entende como o projeto é 360, é holístico, envolve outras tarefas, outras etapas, outras mídias em que aquilo vai desovar e tudo mais. Então ele acaba não entendendo isso e ele se prende somente naquilo que ele tem que fazer. Então ele acaba se tornando um profissional que é limitado, porque ninguém vai querer pagar somente um montador. É muito difícil alguém pagar só um montador. Quero pagar um montador que entende um pouco de design de som.

Ananda: É, isso é justamente o que eu ia… queria chegar a esse ponto. Então as empresas provavelmente esperam que esse profissional, que é montador, seja polivalente, assim como muitas vagas de emprego que a gente vê por aí: tem que saber isso e isso, X, Y e Z e tal. Esse profissional idealmente tem que ter essas duas competências, então?

Gabriel Tuller: É bom que sim. Eu sei, gente, não tem jeito, é uma porcaria, a gente tem que ficar acumulando um monte de coisas, entender de um monte de coisas que a gente não é formado, mas não tem jeito, a gente precisa minimamente aprender. O que hoje em dia a gente chama de profissional em T era o faz-tudo antigamente. Profissional em T é aquele que tem uma ampla área de diferentes etapas e ele é aprofundado em uma atividade específica, exclusiva dele, é especialista em uma área. Mas não tem jeito, você precisa entender de outras coisas que não competem somente àquilo que você foi formado ou somente àquilo que você está interessado. Se você começa a ser um editor de podcasts ou se você é alguém que é um montador antigo, você precisa entender sobre a dinâmica que foi alterada ao longo do tempo. Hoje em dia, os filmes, as séries, é tudo muito mais rápido, é tudo muito mais dinâmico. As informações são muito mais rápidas, é muito diferente da época em que você começou a editar e você, por 20 anos, em uma TV local, editou dessa forma. Por outro lado, você, que é um garoto que está começando agora, que quer fazer absolutamente todas as coisas, se especialize em uma coisa só. Ainda que você tenha uma ampla visão de outras atividades, especialize-se em uma coisa só, porque à medida em que o mercado vai se capacitando mais, vai se profissionalizando mais, ele vai querer profissionais cada vez mais capacitados. Ele não vai querer um faz-tudo, ele não vai querer um generalista que sabe um pouquinho de design de som, sabe um pouquinho de corte, sabe um pouquinho de design, sabe um pouquinho disso aqui. É claro que, se você souber, bem…

Ananda: É bom ter as bases de tudo, claro.

Gabriel Tuller: Isso, mas se você souber isso tudo e for um cara ultraespecialista em design de som, que consegue criar uma ambiência muito grande, é claro que vai ter mais oportunidade para você em trabalhos mais profissionais e maiores. Então é entender que essa dinâmica de mercado foi alterada com o tempo, foi mudada com o tempo. É ruim a gente ter que acumular função, mas é o que eu vejo de presente e futuro de trabalho.

Ananda: Eu vejo dessa forma, e até eu acho que uns dois meses atrás eu fiz um workshop online, mas desses que era ao vivo, de uma universidade estrangeira, e falava de sound design para podcasters, era o nome. Eu falei: “Vou fazer, vou me meter a fazer”. Era um dia só e tal, e aí falava muito da diferença. Uma das coisas que ficou muito clara para mim: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Esse é o montador, esse é o sound designer, esse é o não sei o quê. E eu pensei: “Bom, eu tenho certeza que no mercado brasileiro as empresas esperam que uma pessoa faça tudo isso”.

Gabriel Tuller: Sim, é bem isso. Você falou que você fez o workshop. Trazendo do que eu conheço de mercado, por exemplo, de 3D e animação de peças e tal, já vi muita entrevista de brasileiro que trabalha fora do país e ele fala que ele é um profissional que as empresas lá fora ficam até muito assustadas com ele, falam: “Como assim você é um profissional de 3D, mas você sabe 3D, design, sabe fazer a montagem, sabe fazer um monte de coisas? Aqui não, aqui eu tenho uma pessoa que faz a montagem, uma pessoa que faz só o cabelo do personagem, uma pessoa que faz só o rigging de animação para se movimentar e outro que faz só a renderização daquilo lá. Como você consegue fazer tudo? Que tipo de mercado que você veio?”.

Ananda: Brasil. “De que planeta você veio?”

Gabriel Tuller: Exatamente. 

Ananda: É isso aí, mas aí fica aquela esperança de que, ok, eu acho que a gente está evoluindo sim no podcast, eu vejo, pelo menos os últimos dois anos, uma evolução e eu acredito que as profissões, que as competências vão ficar cada vez mais definidas nos próximos anos. Eu até tenho uma visão otimista, Gabriel. O que você acha? Tu tens uma visão otimista?

Gabriel Tuller: Sim, eu acho que sim. À medida que as coisas vão avançando, a gente vai se profissionalizando, o mercado vai entendendo as diferenças e vai se adaptando. Aí cabe ao profissional da agência que já é muito apaixonado por podcasts começar a ajudar as pessoas que são mais velhas a entenderem o mercado e falar: “Gente, é assim que funciona, é assim que faz uma campanha dentro de um podcast, é assim que a gente vai agir, que é a melhor maneira possível”, e também esses profissionais novos que estão chegando ao mercado entenderem que eles precisam ser profissionais desde o início. Eles precisam começar a pensar em serem profissionais desde o início do projeto que eles estão executando, e é por isso – voltando um pouquinho ao curso – que eu gasto um módulo inteiro do meu curso sobre por que você faz o que você faz, entendendo o seu mercado, entendendo o seu objetivo, porque isso vai definir a sua métrica de sucesso em relação ao seu projeto e ao projeto da agência que você está fazendo. Antes de pensar: “Ah, vou fazer um podcast para a agência que eu trabalho para a gente só fazer”, enfim, pensa no objetivo de campanha antes de começar a executar esse projeto, porque qual é o objetivo? É aumentar o número de clientes? É aumentar a minha ação dentro do mercado, as pessoas saberem quem eu sou, o que eu faço, o que a minha empresa faz? Ou é simplesmente colocar para fora piadas, brincadeiras e coisas que a gente faz aqui no cotidiano? Então isso tudo vai definir o que é sucesso para você dali um ano que você está com aquele projeto sendo executado, e assim ele te mantém no ar por muito tempo. É por isso que eu gasto muito tempo nisto: antes de escolha de microfone ou como você vai fazer para gravar, o objetivo de você fazer o que você está fazendo. Até quando você for profissional, também pensar nisso. Que tipo de podcast você quer trabalhar? Que tipo de trabalho você quer executar? É só bate-papo, é só conversa de entrevista ou não? Você quer trabalhar com audiodrama, com algo mais específico? Isso vai te ajudar, e aí você vai buscar, enfim. Aí falando de profissional, ele vai criar o portfólio dele baseado naquilo que ele quer ser reconhecido pelo mercado.

[Trilha sonora]

[Recado]

[00:40:20] 

Ananda: Muito boa essa conversa, dicas valiosíssimas do Gabriel. E, por favor, Gabriel, muito obrigada e dê os seus contatos, suas redes, como as pessoas te encontram.

Gabriel Tuller: Ananda, obrigado pelo convite. É uma pena que já acabou, passou rápido.

Ananda: Passou rápido, não é?

Gabriel Tuller: Caramba. Como eu falei, eu gosto de falar, eu gosto de pensar sobre o mercado, sobre podcast, sobre as coisas. Eu vejo pouca gente fazendo isso, e eu acho que ter uma conversa séria, madura e até realista sobre mercado de podcast, mais propriamente dito, a gente consegue profissionalizar melhor o mercado, trazer mais pessoas ao entendimento daquilo que a gente já está fazendo. Então obrigado pelo convite. É um prazer. Sempre que quiser e não tiver convidado, alguém desmarcar, pode me chamar que…

Ananda: Pode ter certeza que eu vou te chamar várias vezes, aguarde. Você não vai nem gostar, eu vou ficar toda hora te enchendo o saco.

Gabriel Tuller: Mas você pode me encontrar, você que está ouvindo, no Instagram: @gabrieltuller, Tuller com dois L. Eu estou lá respondendo perguntas das pessoas, eu estou tentando colocar conteúdo mais constantemente no feed de notícias para as pessoas verem sobre podcasts, tudo que envolve podcasts, expandindo um pouco também – por que não? -, falar sobre marketing, falar sobre design, falar sobre esses profissionais que estão ali próximos ao podcasts propriamente dito. Então estou lá no Instagram respondendo tudo. E, caso você queira aprender a fazer o seu podcast comigo, tem um curso chamado Crie Seu Podcast. É só acessar aí: crieseupodcast.com.br. Em sete dias você aprende a botar o podcast no ar. Eu já tive alunos que não sabiam nem abrir um programa de edição e depois de uma semana já estava editando o primeiro episódio dele e fazendo tudo aquilo. Então tem grupo de alunos, tem conteúdo sempre sendo atualizado. Nesse momento, eu estou em fase de atualizar a plataforma e colocar aulas mais recentes, aulas melhores, aulas em que, desde a primeira vez que eu fiz o curso, já mudaram algumas coisas. Então a gente está sempre se atualizando, sempre colocando coisas novas lá, mas é claro que os princípios vão se manter.

Ananda: Eu vou colocar na descrição os links depois para consulta.

Gabriel Tuller: Está ótimo.

Ananda: E, caso você tenha uma empresa ou caso você não tenha tempo de fazer um curso, é só você entrar em contato comigo através da minha empresa, a Cosmódromo: cosmodromo.com.br. Ou, se você acessar aí podcasts.com.br, você também vai cair no site da minha empresa para poder ver tudo que a gente faz aqui. A gente faz desde as etapas de entendimento do seu mercado, entendimento do projeto que você quer executar, até a execução propriamente dita, criação de vinheta, colocar o podcast nas plataformas, executar o projeto, o projeto de design. Se tiver projeto de site também, a gente faz. Então você só tem que se preocupar com gravar e revisar o projeto que você tem aí, o restante pode deixar que a gente faz. Cosmodromo.com.br. Caso você queira também ter uma consultoria mais diretamente comigo, também é só entrar em contato através da Cosmódromo. Tem lá o link do Whatsapp. Você fala aqui com a minha esposa, que é gerente de projetos aqui da empresa, então ela vai te explicar direitinho como funciona essa parte da consultoria. Geralmente são dois encontros, em que no primeiro eu entendo o que você quer fazer e no segundo eu trago as soluções e fica gravado, então você pode sempre voltar. A gente tem o acompanhamento de dois meses ali de coisas pontuais que você queira tirar de dúvida. Eu acho que falei bastante, mas estamos aí.

Ananda: Maravilha, mas é isso, eu quero que fale, que aí depois as pessoas podem procurar e é sempre bom criar essa network de profissionais do áudio, porque eu acho que falta um pouco isso, conectar as pessoas entre si. Legal, Gabriel. Obrigada mais uma vez. Te vejo aí, quem sabe em próximos episódios. Com certeza teremos mais coisas para falar.

Gabriel Tuller: Pode chamar que estamos aí.

Ananda: Então está bom, obrigada. Tchau, tchau.

Gabriel Tuller: Tchau, tchau.

[Trilha sonora]

[Encerramento]

[00:44:29] 

(FIM) 

 

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